segunda-feira, 8 de julho de 2013

REFLEXÕES SOBRE O GOLPE MILITAR NO EGITO



Egito
1- Qualquer revolucionário sabe que a democracia burguesa na verdade é uma ditadura da burguesia sobre o proletariado.  O uso da expressão "democracia" não passa de uma farsa. Em épocas de crise política, e principalmente econômica , a burguesia costuma abrir mão dessa fachada de "democracia" e apelar para um regime bonapartista ou  abertamente fascista.
2- As eleições dentro da democracia burguesa são uma fraude gigantesca. Elas são financiadas pelas  empresas e corporações, ou seja, a própria  burguesia financia seus candidatos, pois uma campanha eleitoral tem custos financeiros altíssimos. A burguesia não se importa em financiar candidatos pseudo-esquerdistas ( PT-PSOL-no Brasil) ou o PS em França ou as chamadas Frentes Populares, ela sabe que uma vez eleitos esses pseudo esquerdistas vão governar para ela mesma, a burguesia.
3- A crise econômica mundial começada em 2008 não permite que as burguesias mundiais, principalmente em países semicoloniais, como o Egito,  dar qualquer concessão econômica aos trabalhadores.
4- A massa de trabalhadores do Egito derrubou o governo de Mubarack em um  processo de insurreição revolucionária incompleto. Incompleto porque essa mesma massa ainda têm ilusões democráticas.Isso por falta da liderança de um partido revolucionário de massas com um programa revolucionário  internacionalista. Isso tornou possível para a burguesia dirigir o que poderia ser um processo verdadeiramente revolucionário diretamente para a ilusão da democracia burguesa. No contexto da história do Egito dos últimos 60 anos são os militares os governantes do regime  para a burguesia na forma de uma ditadura militar , adotando uma postura  pró-imperialista com Anwar Al Sadat nos anos 70 e continuado por Mubarack. Os militares nunca deixaram de ter forte influencia, mesmo com a queda de Mubarack e a consequente convocação de eleições democráticas burguesas que se seguiriam com a eleição de Mursi, representante da Irmandade Muçulmana , em Junho de 2012.
5- Nenhum revolucionário tinha ilusões de que  a Irmandade Muçulmana  faria um governo democrático, mesmo nos moldes da democracia burguesa. Faltou e falta  aos islamitas  a sutileza política necessária para sentir que não poderiam impor a mesma  realidade de um governo teocrático de  modelo iraniano ao  barril de  pólvora em que o  mundo Árabe e o Egito se transformaram desde a chamada Primavera Árabe. Hoje o Egito é uma mistura explosiva dividido entre  uma massa de  apoiadores da Irmandade Muçulmana que vêem o Irã como modelo a ser seguido e outra de  massa francamente hostil a um governo teocrático ditatorial, mas que não consegue enxergar que a democracia burguesa é outra forma de ditadura, e que principalmente, em época de crise econômica mundial,  não atenderá as suas necessidades para diminuir  as desigualdades sociais, a miséria, o desemprego, etc.
6- Mas mesmo a denominada democracia burguesa não é a realidade do Egito atual. Há que se denominar o que realmente aconteceu no Egito: um golpe militar. Isso é algo que nós habitantes  da América Latina reconhecemos muito bem. Nessa caracterização  não cabe nenhum apoio à Irmandade Muçulmana, mas a última coisa que as massas operárias egipcianas precisavam é da tutela da cúpula  militar.
7- Mesmo Obama negando, o golpe militar teve amplo apoio do governo americano, pois se livra de Mursi, um simpátizante do regime do Irã, aliado do Hezbollah e do Hamas, e ao mesmo tempo os EUA garantem à Israel segurança na fronteira com o Egito, assim como já havia feito  a ditadura militar sob o regime de Mubarack. A ironia é que o regime de Assad na Síria tenha dado apoio ao golpe, porém isso se explica pelo fato de que grande parte dos rebeldes em guerra contra Assad são islamitas.
8- Porém a Irmandade Muçulmana é quase centenária (desde 1928), sofreu vários revezes sob os governos de Nasser, Sadat e Mubarack e mesmo assim chegou à presidência concorrendo contra os partidos seculares. Não há evidências de que a Irmandade irá retroceder em sua luta para exigir a volta de Mursi, assim como não há evidências de que os militares e os setores que estão compondo o novo governo provisório vão ceder alguma coisa.  A conclusão é que a crise tende a aumentar e pode evoluir para uma guerra civil.

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