Egito
1- Qualquer revolucionário sabe
que a democracia burguesa na verdade é uma ditadura da burguesia sobre o
proletariado. O uso da expressão
"democracia" não passa de uma farsa. Em épocas de crise política, e principalmente
econômica , a burguesia costuma abrir mão dessa fachada de
"democracia" e apelar para um regime bonapartista ou abertamente fascista.
2- As eleições dentro da
democracia burguesa são uma fraude gigantesca. Elas são financiadas pelas empresas e corporações, ou seja, a
própria burguesia financia seus
candidatos, pois uma campanha eleitoral tem custos financeiros altíssimos. A
burguesia não se importa em financiar candidatos pseudo-esquerdistas (
PT-PSOL-no Brasil) ou o PS em França ou as chamadas Frentes Populares, ela sabe
que uma vez eleitos esses pseudo esquerdistas vão governar para ela mesma, a
burguesia.
3- A crise econômica mundial
começada em 2008 não permite que as burguesias mundiais, principalmente em
países semicoloniais, como o Egito, dar
qualquer concessão econômica aos trabalhadores.
4- A massa de trabalhadores do
Egito derrubou o governo de Mubarack em um
processo de insurreição revolucionária incompleto. Incompleto porque
essa mesma massa ainda têm ilusões democráticas.Isso por falta da liderança de
um partido revolucionário de massas com um programa revolucionário internacionalista. Isso tornou possível para
a burguesia dirigir o que poderia ser um processo verdadeiramente
revolucionário diretamente para a ilusão da democracia burguesa. No contexto da
história do Egito dos últimos 60 anos são os militares os governantes do
regime para a burguesia na forma de uma
ditadura militar , adotando uma postura
pró-imperialista com Anwar Al Sadat nos anos 70 e continuado por
Mubarack. Os militares nunca deixaram de ter forte influencia, mesmo com a
queda de Mubarack e a consequente convocação de eleições democráticas burguesas
que se seguiriam com a eleição de Mursi, representante da Irmandade Muçulmana ,
em Junho de 2012.
5- Nenhum revolucionário tinha
ilusões de que a Irmandade Muçulmana faria um governo democrático, mesmo nos
moldes da democracia burguesa. Faltou e falta
aos islamitas a sutileza política
necessária para sentir que não poderiam impor a mesma realidade de um governo teocrático de modelo iraniano ao barril de
pólvora em que o mundo Árabe e o
Egito se transformaram desde a chamada Primavera Árabe. Hoje o Egito é uma
mistura explosiva dividido entre uma
massa de apoiadores da Irmandade
Muçulmana que vêem o Irã como modelo a ser seguido e outra de massa francamente hostil a um governo
teocrático ditatorial, mas que não consegue enxergar que a democracia burguesa
é outra forma de ditadura, e que principalmente, em época de crise econômica
mundial, não atenderá as suas necessidades
para diminuir as desigualdades sociais,
a miséria, o desemprego, etc.
6- Mas mesmo a denominada
democracia burguesa não é a realidade do Egito atual. Há que se denominar o que
realmente aconteceu no Egito: um golpe militar. Isso é algo que nós
habitantes da América Latina reconhecemos
muito bem. Nessa caracterização não cabe
nenhum apoio à Irmandade Muçulmana, mas a última coisa que as massas operárias
egipcianas precisavam é da tutela da cúpula
militar.
7- Mesmo Obama negando, o golpe
militar teve amplo apoio do governo americano, pois se livra de Mursi, um
simpátizante do regime do Irã, aliado do Hezbollah e do Hamas, e ao mesmo tempo
os EUA garantem à Israel segurança na fronteira com o Egito, assim como já
havia feito a ditadura militar sob o
regime de Mubarack. A ironia é que o regime de Assad na Síria tenha dado apoio
ao golpe, porém isso se explica pelo fato de que grande parte dos rebeldes em
guerra contra Assad são islamitas.
8- Porém a Irmandade Muçulmana é
quase centenária (desde 1928), sofreu vários revezes sob os governos de Nasser,
Sadat e Mubarack e mesmo assim chegou à presidência concorrendo contra os
partidos seculares. Não há evidências de que a Irmandade irá retroceder em sua
luta para exigir a volta de Mursi, assim como não há evidências de que os
militares e os setores que estão compondo o novo governo provisório vão ceder
alguma coisa. A conclusão é que a crise
tende a aumentar e pode evoluir para uma guerra civil.
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