Como as lideranças dos sindicatos, do PT, do PCdoB, do
pseudo-trotskista PSTU e PSOL sabotam a luta contra o governo Bolsonaro
Por Michael Pröbsting,
Secretário Internacional da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI/RCIT), 10 de junho de 2020,
www.thecommunists.net
Em todo o mundo milhões de trabalhadores e jovens estão marchando nas
ruas contra o racismo e a brutalidade policial. Como a CCRI elaborou em vários
documentos, este é um ponto de virada histórico, um momento de libertação. Após
meses de regras de confinamentos contrarrevolucionários impostas pela classe
dominante sob a cobertura da pandemia COVID-19, as massas estão quebrando as
proibições das assembleias públicas. [1]
Esses protestos em massa estão baseados em mobilizações populares
espontâneas. Desde alguns meses, a maioria dos oportunistas partidos da
esquerda – social-democratas, estalinistas, populistas de esquerda,
pseudo-trotskistas, etc. – apoiam o Bloqueio imposto pela classe dominante em
todo o mundo. Esta Esquerda do Confinamento se recusou a convocar mobilizações
nas ruas, apesar do fato de que os trabalhadores e os oprimidos enfrentam os
piores ataques desde a Segunda Guerra Mundial (crise econômica, aumento
explosivo do desemprego, vasta expansão da polícia e estado de vigilância,
etc.). [2]
Em vez de chamar
o povo para lutar, a Esquerda d Confinamento juntou-se ao coro de muitos
governos capitalistas e disse às massas para "Fiquem em casa!" Eles pateticamente justificaram tal traição
referindo-se à pandemia COVID-19. Por trás desse argumento está a ideia
reacionária de que os oprimidos deveriam parar de lutar em tempos de pandemias
e que a classe dominante com seu aparato estatal bonapartista em expansão seria mais adequada
para combater tal pandemia. [3]
Em contraste, a
CCRI denunciou tal capitulação da esquerda reformista e centrista desde o
início. Explicamos que o COVID-19 não é nem a primeira nem a última pandemia
nas últimas décadas. A humanidade já experimentou tais pandemias várias vezes
que causaram a morte de centenas de milhares de pessoas todos os anos
(epidemias graves de influenza, HIV/AIDS, malária, tuberculose, para não falar
sobre os milhões de pessoas que morrem todos os anos por causa de doenças
cardíacas, nicotina ou álcool). Tais pandemias devem ser combatidas com um
programa de saúde (expansão do setor de saúde pública sob controle popular e
dos trabalhadores, mensagens de texto em massa gratuitos, etc.) e, em última
instância, a derrubada do capitalismo como sendo o sistema responsável por
muitas dessas doenças. Explicamos também que a classe dominante está usando a
pandemia COVID-19 como encobrimento para desviar a atenção das massas da crise
econômica e, ao mesmo tempo, legitimar a expansão do aparato estatal
bonapartista. [4] Em nenhuma circunstância uma organização progressista deve
apoiar a repressão estatal burguesa e as medidas de bloqueio draconianas –
mesmo que sejam supostamente medidas de saúde – dirigidas contra o povo. [5]
Finalmente, e o
mais importante, é criminoso dizer às massas a ficarem em casa quando, ao mesmo
tempo, os patrões jogam milhões de trabalhadores nas ruas, quando as massas
passam fome por causa do confinamento, quando as classes dominantes expandem
amplamente o estado policial e de vigilância! Uma pandemia não pode justificar
de forma alguma o voluntário desarmamento e capitulação pela esquerda diante de tais enormes ataques
econômicos e antidemocráticos! É por isso que a
CCRI chamou desde o primeiro
momento que os trabalhadores e organizações populares devem lutar contra esses
ataques em vez de apoiar o reacionário
confinamento. [6]
A "Esquerda" Covarde
Hoje vemos um
exemplo particularmente marcante de tal traição no Brasil. Como em muitos
outros países, os trabalhadores e os oprimidos começaram espontaneamente a
lutar contra a ofensiva reacionária. Iniciados por torcedores antifascistas do
futebol e organizações populares no final de maio, os protestos contra os
governos de extrema direita de Bolsonaro se espalharam desde então. Isso
demonstra a disposição das massas em lutar contra os ataques reacionários.
Também deixa claro que as massas – como em muitos países em todo o mundo – não
aceitam as reacionárias proibições de fazerem assembleias em massa e
manifestações usando como cobertura da
crise do COVID-19. [7]
No entanto, a
maioria dos partidos da esquerda reformista e centrista brasileira se recusa a
apoiar essas mobilizações! As federações sindicais CUT e CTB, assim como os
partidos que os controlam – o social-democrata PT e o estalinista PCdoB –
votaram para não participar de nenhuma atividade de rua. Eles afirmam que tais
manifestações podem provocar o governo Bolsonaro a tomar medidas ditatoriais.
Isso mostra mais uma vez a política de covardia e capitulação das lideranças
reformistas que se recusam a lutar contra a ofensiva reacionária.
A posição
política desses partidos reformistas é particularmente cínica, dado o fato de
que, para a maioria do proletariado, ficar em casa e trabalhar via "home
office" não é opção. Eles têm que ir para fábricas, serviço de transporte
etc. Vale ressaltar que nos estados onde o PT e o PCdoB estão no governo – como
no Maranhão, Ceará, Bahia ou Rio Grande do Norte – lojas, shoppings etc. estão
autorizados a abrir. Assim, enquanto os trabalhadores têm que continuar fazendo
seu trabalho, eles não devem – de acordo com esses partidos – ir às ruas para
protestar.
Mas essa traição
não se limita às lideranças reformistas. Como em muitos outros países ao redor
do mundo, a autoproclamada esquerda trotskista no Brasil se adapta
oportunistamente às lideranças reformistas. Em reunião da liderança da CONLUTAS
– central sindical da esquerda radical – em 5 de junho, a grande maioria se
recusou a convocar mobilizações em massa. Uma resolução proposta pelo Movimento Revolucionario Socialista (MRS)
que pedia apoio a tais mobilizações foi derrotada por 22 votos a 2. A única
outra liderança que votou a favor dessa resolução, além da MRS, foi o delegado
da Corrente Socialista dos Trabalhadores
(seção Brasil do UIT-CI que funciona como uma corrente minoritária dentro do
PSOL). O PSTU – que domina a liderança da CONLUTAS e que também é a seção-mãe
da corrente Internacional LIT-CI – assim
como todas as outras correntes do PSOL se opuseram a um chamado por
mobilizações. [8]
Assim, quando as
massas invadiram as ruas, apesar do
fracasso da esquerda reformista e centrista para se mobilizarem, os líderes do
PSTU tentaram aproveitar a onda enviando
alguns membros para participar de manifestações com suas bandeiras.
Este triste
exemplo de covardia demonstra mais uma vez o caráter reacionário da Esquerda do
Confinamento. Apesar de todas as frases pomposas de "socialismo",
"marxismo" e até mesmo "trotskismo", eles capitulam à
burguesia e à burocracia reformista e se abstêm de convocar as lutas de massa. Se acobertando supostas
razões de saúde, esses esquerdistas de
fato apoiam as medidas reacionárias de bloqueio que proíbem as pessoas de se manifestarem
nas ruas. Como resultado, a esquerda covarde fica em casa enquanto, ao mesmo
tempo, os partidários de extrema direita de Bolsonaro ficam chamando por um golpe militar nas ruas!
[9]
Repetimos que com uma postura tão
contrarrevolucionária de grandes setores da chamada esquerda fica claro mais
uma vez a necessidade urgente de construir um autêntico partido revolucionário
– nacional e internacionalmente. A CCRI convoca ativistas revolucionários no
Brasil e no mundo a se unirem com base em um programa de luta contra a atual
reacionária ofensiva da burguesia. Tal
programa implica uma demarcação clara e intransigente contra as formas de
social-bonapartismo. Marxismo e Esquerda Covarde são absolutamente opostos!
[10]
[1] Veja sobre isto, por exemplo, CCRI/RCIT: A Revolta Popular Global contra o Racismo e a Violência Policial. Este é um ponto de virada que acaba com a situação contra-volucionária global. Mas os trabalhadores e os oprimidos precisam se preparar para uma ofensiva reacionária contínua da classe dominante!, 8 de junho de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/the-global-popular-uprising-against-racism-and-police-violence/; para os documentos da CCRI/ RCIT sobre a revolta popular nos EUA veja a sub-página especial em nosso site: https://www.thecommunists.net/worldwide/north-america/articles-on-uprising-after-murder-of-george-floyd/
[2] Veja capítulo I e II do novo livro de Michael
Pröbsting: A Contra-Revolução Global no COVID-19: O Que É e Como Combatê-la.
Uma análise marxista e estratégia para a luta revolucionária, RCIT Books, abril
de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/livro-a-contra-revolucao-global-no-covid-19/
[3] A CCRI analisou
extensivamente a crise do COVID-19 desde o seu início. A partir de 2 de
fevereiro, publicamos quase quatro dúzias de documentos que estão todos
coletados em uma sub-página especial em nosso site: https://www.thecommunists.net/worldwide/global/collection-of-articles-on-the-2019-corona-virus/. Em particular, encaminhamos os
leitores para o Manifesto da CCRI/RCIT: : COVID-19: Uma Cobertura para
uma Grande Ofensiva Contra-volucionária Global. Estamos em um ponto de virada
na situação mundial, pois as classes dominantes provocam uma atmosfera de guerra
a fim de legitimar o acúmulo de regimes chauvinistas de estado-bonapartista, 21
de março de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/covid-19-o-encobrimento-para-uma-grande-ofensiva-contra-revolucionaria-global/. Veja também o novo livro mencionado
por Michael Pröbsting: A Contra-Revolução Global no COVID-19: O Que É e Como
Combatê-la.
[4] Sobre os últimos desenvolvimentos
na expansão do bonapartismo estatal ver, por exemplo, Michael Pröbsting: O
Estado de Polícia e Vigilância na Fase pós-confinamento. Uma revisão global dos
planos da classe dominante de expandir a máquina estatal de bonapartista em
meio à crise COVID-19, 21 de maio de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/police-and-surveillance-state-in-post-lockdown-phase/
[5] Veja sobre este, por exemplo,
CCRI/RCIT: Um Programa de Ação Revolucionária para combater o COVID-19!
Trabalhadores e Oprimidos: Não confie no Estado dos Ricos e Poderosos! Confiem
apenas em vocês mesmos! Abril de 2020, https://www.thecommunists.net/rcit/health-program-covid19; veja também Almedina Gunić: Não,
provavelmente não é COVID-19 que vai matá-lo. Uma epidemia controlável
tornou-se inimigo público número um distraindo os verdadeiros assassinos, 16 de
março de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/nao-provavelmente-nao-e-o-covid-19-que-vai-te-matar/
[6] Veja os documentos na sub-página
especial em nosso site: https://www.thecommunists.net/worldwide/global/collection-of-articles-on-the-2019-corona-virus/. Para alguns exemplos da participação
da CCRI/RCIT nas lutas atuais, veja, por exemplo, RSV: Nigéria: RALLY EM
SOLIDARIEDADE COM A CAMPANHA #JusticeForUwa, Um Relatório (com Imagens), 3 de
junho de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/nigeria-rally-in-solidarity-with-the-justiceforuwa-campaign/; RSL: Quênia: As massas oprimidas
exigem "Pare de nos matar!" Relatório (com Imagens e Vídeo) da Manifestação
do Povo do Quênia contra a Brutalidade Policial, 9 de Junho de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/demonstration-against-police-brutality-in-nairobi-8-6-2020/; MÉXICO: Parem o racismo, parem a
impunidade! Relatório sobre um dia de manifestações contra a brutalidade
policial nos EUA e México, 6 de junho de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/mexico-stop-racism-stop-impunity/; EUA: Black Lives Matter Demonstration em São Francisco, Relatório (com
Vídeo) pela SRV, 7 de junho de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/north-america/blm-demonstration-in-san-francisco-7-6-2020/
[7] Veja sobre este exemplo CCR:
Brasil: Fãs de futebol organizam manifestações antifascistas, 31 de maio de
2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-torcedores-de-futebol-organizam-manifestacoes-anti-fascistas/: ccr: grandes manifestações populares
contra o governo bolsonaro quebrando o bloqueio em várias cidades do brasil, 7
de junho de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/grandes-manifestacoes-populares-contra-o-governo-bolsonaro-quebram-o-lockdown-em-varias-cidades-do-brasil/
[8] Veja sobre isto, por exemplo, o
relatório dos camaradas do Movimiento
Revolucionario Socialista: ¡Las centrales sindicales y partidos de "izquierda"
contra convocar actos de protesta! 8.6.2020, https://mrsocialista.org/las-centrales-sindicales-y-partidos-de-izquierda-contra-convocar-actos-de-protesta/
[9] Veja sobre isso, por exemplo, CCR:
Brasil: Militares ameaçam explicitamente com um novo Golpe de Estado militar,
25 de maio de 2020, https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-militares-amea%C3%A7am-explicitamente-com-um-novo-golpe-militar/
[10] Para uma discussão mais detalhada
sobre o fracasso da Esquerda de Bloqueio, consulte, por exemplo, o capítulo V
em Michael Pröbsting: A Contra-evolução global COVID-19; ver também pelo mesmo
autor COVID-19 e a Esquerda do Confinamento: o exemplo do Podemos e do
Stalinismo na Espanha, 24 de março de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/covid-19-lockdown-left-podemos-and-stalinism-in-spain/; Social-Bonapartismo na Argentina. O
Partido Obrero (Tendência) de Jorge Altamira apoia o Estado de Emergência, 29
de abril de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/social-bonapartism-in-argentina/; Quando o ultra-esquerdista se casa com
o social-bonapartismo e dá origem ao obscurantismo "pós-marxista".
Uma resposta ao CWG/ILTT, 5 de maio de 2020, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/covid-19-when-ultra-leftism-marries-social-bonapartism/
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