Falharam os atos da extrema-direita radicalizada deste domingo 26, convocados pelas redes sociais por Bolsonaro e seus filhos em apoio a uma mudança de regime, de característica fascista, que propunham o fechamento do Congresso, o fechamento da Suprema Corte Nacional e consequentemente defendiam todos os os poderes centralizados nas mãos do executivo. Foi uma tentativa malfadada de forças ultra-reacionárias e fascistas de impor seus planos de construir um sistema bonapartista.
Os setores burgueses que deram o golpe em 2016 estão em plena guerra pelo poder, mas seus objetivos finais eram o impulso por radicalizadas reformas neoliberais. No entanto, neste processo, as forças fascistas podem vir a crescer massivamente, o que se tornou muito visível durante as manifestações de 26 de maio. Caracteristicamente, os manifestantes eram em sua maioria de classe média branca, conservadora, racistas e mentalidade escravocrata.
As mobilizações em favor do presidente foram muito menores do que a marcha de 1,5 milhão, em 15 de maio, não só contra os cortes na educação, mas também contra a reforma da Previdência ( fato escondido pela mídia) que foram liderados por educadores e estudantes. O fato da imprensa monopolizada esconder que as manifestações de 15 de maio também eram contra a reforma da Previdência fez que inclusive alguns sites de organizações de esquerda ( trotskyistas incluídos) da América Latina também não pudessem elaborar uma análise mais precisa dos acontecimentos.
Essa atitude arriscada de Bolsonaro se deu logo após o Ministério Público (MP) ter pedido a quebra de sigilo bancário e fiscal de seu filho Flávio Bolsonaro e de mais 94 pessoas e algumas empresas, em 15 de abril, quando afirmou ter reunido informações de que ele teria investido R$ 9,4 milhões na compra de 19 imóveis. “As vendas declaradas entre 2010 e 2017 representariam uma lucratividade de R$ 3 milhões”, dizia o MP. Em seguida, listou um total de 37 imóveis, em uma solicitação de informações a cartórios do Rio. Tais movimentações são consideradas como uma forma de lavagem de dinheiro pelo MP. Flávio também é investigado por supostas ligações com as milícias que mataram a vereadora Marielle. A quebra de sigilo bancário pode atingir diretamente a esposa do presidente, Michelle Bolsonaro, por causa de um depósito mal explicado de 40 mil reais feito por um ex-empregado de Flavio, Fabrício Queiroz.
No dia seguinte a quebra de sigilo bancário do seu filho, durante viagem oficial a Dallas, nos Estados Unidos, Bolsonaro em tom furioso declarou: “Querem me atingir? Venham pra cima de mim. Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem de ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar!!”. Logo depois Bolsonaro fez a “convocação” da população em apoio ao seu governo o dia 26 de maio.
A imprensa burguesa monopolizada ( Jornal Folha de São Paulo, Organizações Globo, Rede Bandeirantes de televisão, etc) controlada pelo sistema financeiro escondeu criminosamente a característica fascista dessas manifestações preferindo mostrar as poucas fotos em que alguns apoiadores de Bolsonaro defendiam a reforma da Previdência e outros a favor da liberação das armas à população mais rica (o custo para o registro e a compra de armas alcança quase mil dólares). Para certos setores da imprensa burguesa muito mais importante é defender as reformas neoliberais, mesmo que para isso seja necessário um regime abertamente fascista.
Porém nem toda a burguesia concorda com o plano de Bolsonaro. A poderosa Federação da Indústria do Estado de São Paulo-FIESP se recusou a dar seu apoio, assim como os Partidos tradicionais de direita PSDB, DEM, PP, etc, assim como o poderoso setor do agronegócio que tem um forte lobby no congresso nacional e caiu fora , inclusive a organização de extrema direita Movimento Brasil Livre-MBL. Um dos líderes do MBL ,Kataguiri, declarou: “A gente não aderiu porque a gente não compactua com protestos adesistas, governistas, que faz com que o presidente possa fazer o que ele bem entender. O presidente precisa ser elogiado quando ele acerta e criticado quando ele erra, como qualquer democracia saudável. E, segundo, porque a gente não concorda com pautas como fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional”.
No dia seguinte ao relativo fracasso das manifestações bolsonaristas o presidente faz um recuo estratégico e se reuniu com os presidentes da Câmara federal e do Senado, juntamente com o presidente da suprema corte para estabelecerem um pacto de governabilidade em nome das reformas econômicas. Uma pergunta fica no ar, o que o presidente da Suprema Corte está fazendo numa reunião entre executivo e legislativo para estabelecer medidas econômicas que explicitamente vão contra a constituição? O Brasil chegou à tal ponto que o tradicional disfarce de que existe independência entre executivo,legislativo e judiciário está sendo abertamente abandonado.
Qual o verdadeiro projeto de poder de Bolsonaro?
Existe somente um projeto que unifica todos esses setores da burguesia que estão em luta aberta pelo poder: as reformas neoliberais. A burguesia ao escolher Jair Bolsonaro nas eleições fraudadas em 2018 esperava que ele fosse o homem certo para esse projeto. Eles já tinham conhecimento do seu despreparo, da sua incapacidade política e da sua truculência, mas todos esperavam poder controla-lo ao assumir o poder, inclusive os generais que impediram a candidatura de Lula da Silva do PT. O que eles não esperavam é que Bolsonaro e seu clã familiar, guiados pelo se guru, o astrólogo Olavo de Carvalho radicado nos EUA tivessem um projeto próprio de poder que não deseja ficar submisso nem ao congresso, nem ao Supremo Tribunal Federal e inclusive se recusam a ficarem submissos aos generais, por exemplo o vice-presidente Hamilton Mourão. Bolsonaro e seu clã desejam um regime bonapartista com fortes tonalidades fascistas para fazer não só as reformas ultraliberais mas esmagar toda a resistência do movimento de massas, todas as organizações operárias e do campo.
O projeto bonapartista de Bolsonaro tem o apoio de um pequeno setor de empresários, da baixa oficialidade das Forças Armadas, das polícias militares dos estados, da raivosa classe média bolsonarista fascista cujo número ficou muito abaixo da manifestação do dos educadores e estudantes no último dia 15 de maio.. O Partido dos Trabalhadores, principal partido da oposição, se mantém no mesmo patamar de 30% de apoio eleitoral. Tais índices demonstram claramente que a direita tradicional ao dar o golpe institucional contra a presidente Roussef na prática abriu caminho para extrema direita neofascista liderada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Brasil à beira de uma recessão
Em um longo artigo publicado em 27 de maio no website espanhol El país o prestigiado economista keynesianista José Luis Oreiro aponta que a chance de o Brasil entrar em recessão técnica em 2019 beira os 70%. O economista defende que “o momento não é de cortes, mas de aumento do investimento público, e chama Paulo Guedes de “jogador de poker”, ao vincular a solução para o cenário de catástrofe econômica à aprovação da Reforma da Previdência. Oreiro ainda afirma que a atual política de austeridade da equipe do ministro da economia é equivocada e não ajudará a recolocar o país na rota do crescimento. Pelo contrário, Oreiro avalia que a economia brasileira já dá sinais de retração e o Brasil corre o risco de mergulhar novamente em uma recessão. As opiniões do economista importunam economistas liberais, já que, na avaliação dele, o momento não é de cortes, mas de aumento do investimento público.1
Para confirmar as palavras de José Luis Oreiro a taxa de desemprego no Brasil ficou em 12,4% no trimestre, atingindo 13,1 milhões de pessoas, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) “O resultado mostra o retorno da economia ao terreno negativo após oito trimestres de crescimento. Esse cenário é desanimador quando se constata que os oito trimestres anteriores não foram suficientes para estimular uma retomada significativa da economia após a recessão de 2014-2016. Esses números refletem a incerteza política e econômica que tem efeito direto nos investimentos e impactam a evolução da atividade econômica, principalmente, o setor industrial, comprometendo a retomada do emprego afetando o consumo das famílias”.
Greve geral dia 14 de Junho, Como estão se organizando os movimentos de massas?
É dentro deste caótico contexto de crise econômica, política e social implantado a partir do golpe institucional de 2016, após a fraude eleitoral construída com a prisão e impedimento de Lula da Silva-PT, após a série de ataques aos direitos sociais e trabalhistas, as sucessivas privatizações das riquezas nacionais, que todas as centrais sindicais e os principais partidos à esquerda se viram na obrigação de mobilizar as massas. O que está em jogo é a luta contra a barbárie ultra neoliberal, é a luta pelos direitos democrático conjugado com a luta pelo socialismo pela libertação da classe trabalhadora da cidade e do campo. 3
O site da Central Única dos Trabalhadores-CUT anuncia que “A greve geral do dia 14 de junho contra a reforma da previdência e por mais empregos, que está sendo organizada pela CUT e demais centrais sindicais - CTB, Força Sindical, CGTB, CSB, Nova Central, CSP- Conlutas e Intersindical -, ganhou a adesão de estudantes e professores depois que o governo Jair Bolsonaro (PSL) anunciou cortes que inviabilizam a educação pública, do ensino básico a pós-graduação no País”. Também se uniram à mobilização da greve geral o MST, o MTST o PCO, o PSOL, PCdoB, etc.
A seção brasileira da Corrente Comunista Revolucionária Internacional-CCRI estará presente nas mobilizações.
1- https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/23/economia/1558624603_216267.html
2-https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-escandalosa-fraude-eleitoral-abre-caminho-para-a-volta-do-novo-regime-militar/
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