Turquia após o fracassado golpe: Defender os direitos democráticos!
Declaração conjunta da Dördüncü Blok (Turquia) e Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI/DKUE), 16/7/2016 (21h30 horas local da Turquia), http://www.thecommunists.net/ e http://dorduncublok.blogspot.com
1. Após a tentativa de golpe por parte do exército turco ter sido derrotada nas ruas de Istambul, os revolucionários devem permanecer alertas. Não devemos permitir que esta tentativa fracassada de golpe de Estado seja usada pelo reacionário governo Erdoğan para diminuir ainda mais os direitos democráticos. No entanto, esta tentativa de golpe não foi um teatro político inventado por Erdoğan para justificar ainda mais o enfraquecimento dos direitos democráticos, foi uma tentativa bastante real que foi interrompida com o sangue das massas.
2. Parece que quase todas as grandes potências estavam dispostas apoiar um golpe bem-sucedido. Não disseram nada negativo sobre o golpe até que ficou claro que ele tinha sido derrotado nas ruas. Após o golpe elas tiveram que falar contra ele, porque elas ainda querem ter influência sobre o governo Turco. O fato de que o Exército Sírio leal a Assad ter aplaudido a tentativa de golpe de estado na Turquia demonstra mais uma vez a natureza reacionária do regime de Assad.
3. Salientamos que a nossa posição no documento que emitimos enquanto a tentativa de golpe de estado ainda estava acontecendo é absolutamente correta. Durante a noite entre 15 e 16 de julho, afirmamos: "A fim de derrotar o golpe militar precisamos de ações de massa dos trabalhadores e dos pobres! (…) eles colocaram os soldados em nossas ruas e bairros, vamos mostrar a eles que foi um grande erro!" (Veja a declaração do CCRI e DKUE: Turquia: derrotar o golpe nas ruas! Nenhum apoio político para o AKP/Erdogan! Mas o principal inimigo é o comando do exército, apoiados pelas grandes potências! http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/derrotar-golpe-turquia/) isto é exatamente o que aconteceu. O golpe foi derrotado pelas massas da população urbana pobre de Istambul e Ancara. Enquanto muitos daqueles que tomaram as ruas são adeptos de Erdoğan e muitos tiveram motivação religiosa precisamos afirmar categoricamente: eles estavam no lado correto das barricadas e em sua heroica oposição ao golpe de estado, estávamos juntamente com eles.
4. O fato de que as esquerdas turcas não tiveram nenhum papel nesta luta de massa reflete meramente sua fraqueza e sectarismo. Isto poderia ter sido a oportunidade perfeita para as esquerdas turcas ganharem a confiança de um setor das massas dos trabalhadores religiosos turcos que seguem o AKP. Nós poderíamos ter mostrado a eles que, embora tenhamos divergências políticas, também defendemos os seus direitos e suas vidas contra os ataques reacionários. Os acontecimentos em Istambul demonstram a importância de construir um verdadeiro partido revolucionário que seja capaz de intervir em tais lutas ao lado de trabalhadores politicamente atrasados e mostrar a eles, na prática, que eles podem confiar em nós.
5. As esquerdas turcas poderiam ter usado esta oportunidade para tomar o controle de pelo menos alguns distritos em Istambul e outras partes do país. Poderiam tomar as ruas sob o lema "Abaixo o golpe de estado – mas nenhum apoio político para Erdoğan!" E teriam tido pelo menos uma influência limitada junto às massas em revolta. Ela poderia ter assegurado que, pelo menos em partes do país, o resultado da revolta de massas teria levado à autodeterminação para alguns bairros. Isso teria sido um sinal importante para as massas da Turquia sobre como proceder. Mas sem surpresas, o sectarismo da esquerda levou-os a declarar que os revolucionários deveriam ficar em casa enquanto as massas lutavam nas ruas. Este é o caminho para "não sujar as mãos", esperando por um movimento revolucionário "puro" (que nunca chega) e ficar isolado.
6. Nós chamamos pelos comitês populares que devem monitorar o exército e especialmente os oficiais que não são leais a vontade das massas populares. Todos aqueles que participaram no golpe ou estiveram envolvidos em crimes de guerra no Curdistão devem ser trazidos aos tribunais populares. A massa do povo tem que limpar o exército de todos aqueles que estão dispostos a levantar armas contra eles. Propomos que todas as passagens na Constituição turca e das leis que permitem ao exército a intervir contra seu próprio povo sejam excluídas; da mesma forma, a opção de declarar lei marcial também deve ser eliminada. No entanto, também devemos deixar inequivocamente claro dizendo aos trabalhadores e oprimidos que nenhum pedaço de papel os protegerá contra o exército e a polícia, apenas sua própria força, sua organização e sua vontade de lutar.
7. Ao mesmo tempo, somos contra o esforço do governo Erdoğan em reforçar a polícia, às custas do exército. A promulgação desta política de modo algum assegurará que não haverá nenhuma ditadura na Turquia, mas apenas estará a assegurar que não será conduzido pelo exército. A estratégia de fortalecer a polícia de Erdogan foi concebida para garantir que ele será capaz de permanecer no poder e construir o seu estado presidencial- policial- ditatorial. Os trabalhadores e as massas do povo não devem ter confiança na polícia, que têm sido usada para reprimir manifestações tantas vezes no passado, e que está pronta para atacar contra as massas mais uma vez na hora em que forem chamados. Somente os trabalhadores e milícias populares que são verdadeiramente fiéis às massas do povo, eleitos nos locais de trabalho e bairros, é que irão garantir que as forças armadas encontrarão oposição forte, se elas tentarem atacar seu próprio povo. Tais milícias irão garantir que os pobres e os nossos irmãos e irmãs curdos estão protegidos.
8. A parte do exército que declarou guerra às massas do povo, tiveram seus tanques invadidos e estando cercados foram forçados a capitular. Da mesma forma, precisamos lutar contra a guerra que foi declarada contra o povo curdo, com a ocupação de suas cidades, as inúmeras prisões e assassinatos. Precisamos ganhar apoio entre os trabalhadores turcos e pobres para forçar o mesmo exército que lhes atacou a retirar as suas forças das áreas curdas da Turquia e para terminar as suas operações militares e assassinatos contra os nossos irmãos e irmãs curdos. Os acontecimentos deste dia passado mostraram que as massas curdas e turcas partilham o mesmo inimigo: o antidemocrático exército turco! Agora é o momento decisivo dos trabalhadores turcos serem afastados da influência reacionária do AKP. Mas isso não pode simplesmente ser feito por uma sectária denúncia do AKP, como fazem os estalinistas, mas em defendê-los contra os ataques reacionários e pedagogicamente explicando-lhes os seus verdadeiros interesses. Ao mesmo tempo, temos de lutar contra todas as medidas reacionárias do governo Erdoğan e politicamente criticar o islamismo burguês.
9. Uma bandeira central para os Revolucionários na Turquia agora é "Por uma Assembleia Constituinte Revolucionária!" Vamos lutar por uma assembleia constituinte que seja baseada em comissões eleitas em assembleias de massa nos bairros e locais de trabalho. Precisamos lutar contra todos os ataques reacionários aos direitos democráticos e nos esforçarmos para a formação do poder real para os trabalhadores e os pobres!
10. A tarefa central continua a ser o construir um partido autenticamente revolucionário na Turquia. É imperativo que esse partido também seja capaz de influenciar politicamente os trabalhadores religiosos, ao mesmo tempo não dando qualquer apoio político ao islamismo. Esse partido vai defender as massas do povo, em particular os curdos e todas as outras minorias nacionais, contra toda a injustiça, não importa se forem por parte dos generais kemalistas, do estado policial de Erdoğan ou das empresas multinacionais! Pela formação de partidos revolucionários em todos os países, e pelo seu fortalecimento nas próximas lutas pela frente! Por uma revolucionária 5ª Internacional!
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