sábado, 9 de julho de 2016

Carta aberta aos membros e simpatizantes Liga Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional, LIT-QI)

Após a divisão do PSTU / LIT-QI: Que lições podem ser tiradas?
Carta aberta aos membros e simpatizantes Liga Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional, LIT-QI)
Emitido pelo Secretariado Internacional da Corrente Comunista Revolucionária Internacional-CCRI e pela Corrente Comunista Revolucionária-CCR (Seção no Brasil do CCRI), 11/07/2016, www.thecommunists.net

Caros companheiros da LIT-QI,

Sem dúvida, o rompimento no PSTU - a maior seção da LIT - é um evento importante. É importante não só porque envolveu quase metade dos membros da seção brasileira, mas também porque isso reflete problemas fundamentais desta organização.

Como devem estar ciente, a causa direta para o rompimento foi a vergonhosa posição neutra abstencionista da maioria PSTU quando a grande burguesia no Brasil - com a ajuda do Poder Judiciário do Estado, da mídia privada, assim como da neoliberal oposição de direita - derrubou o governo de Frente Popular de Dilma Rousseff com um golpe institucional. Mesmo hoje em dia a liderança PSTU recusa-se a uma frente única com as organizações de massa reformistas FBP, FPSM, CUT, MST, MTST etc., a fim de mobilizar contra o governo de direita, neoliberal de Michel Temer!

Ao mesmo tempo, a liderança PSTU combina tal sectarismo Terceiro Campista com a convocação arqui-oportunista por ... uma greve geral para novas eleições gerais parlamentares! Qual seria o resultado dessas eleições gerais? Um reforço dos partidos de direita? A consolidação do PT? Como podem revolucionários orientar a vanguarda da classe trabalhadora para uma tal manobra eleitoral parlamentar que só faria estabilizar o regime capitalista?!

A minoria do PSTU, que agora rompeu, parece ter criticado esta política e nisto eles certamente estavam corretos!

A CCRI e sua seção no Brasil caracterizam posição abstencionista da liderança do PSTU como uma completa traição ao movimento operário. Com certeza, os revolucionários não poderiam dar qualquer apoio político ao governo da Frente Popular liderado pelo reformista PT. O PT fez uma coalizão reacionária com o abertamente burguês PMDB e se acomodou à burguesia tendo iniciado reformas neoliberais. Mas este não foi o motivo pelo qual o PMDB deixou a coalizão e não foi o motivo pelo qual a grande burguesia unificada derrubou o governo através de um golpe institucionalizado. A razão estava relacionada com que o governo da Frente Popular não foi longe o suficiente com a sua adaptação ao neoliberalismo. Ele foi impedido em ir mais longe por causa de sua base social, ou seja, o fato do PT ter como base de apoio os sindicatos, as organizações camponesas, as organizações dos pobres urbanos etc. É por causa desta base que a liderança do governo PT foi forçada a introduzir programas sociais como o Bolsa Família.

A grande burguesia - com o apoio do imperialismo norte-americano - instigou o golpe porque ela queria impor um governo de direita que não tivese limitações de sua base para implementar um ataque neoliberal completo sobre a classe trabalhadora e os pobres. Esta é a principal razão pela qual as organizações de massas reformistas da classe trabalhadora e dos pobres estão mobilizados contra o golpe. Esta é a principal razão pela qual eles estão se mobilizando agora contra o governo Temer.

Por essa razão o golpe institucional foi um ataque contra as massas populares. Os Revolucionários tiveram que entender isso e chamar por uma frente única contra os golpistas com as organizações de massa reformistas. Eles tiveram que participar das manifestações de massa anti-golpista, sem dar qualquer apoio político para o governo de Dilma Rousseff. Eles tiveram que combinar a luta contra o golpe com uma perspectiva de fazer com que a classe trabalhadora e suas organizações rompessem com a Frente Popular e para construir um forte partido revolucionário. Esta foi a política do CCRI e sua seção no Brasil que tentamos implementar o melhor possível com as nossas limitadas forças. [1]

Camaradas da LIT: Uma organização como o PSTU, que afirma representar a vanguarda, falha completamente em dar às massas populares qualquer direção se é incapaz de diferenciar entre a Frente Popular e os golpistas, entre Kerensky e Kornilov, entre Negrin e Franco .

A política da liderança PSTU aparece como ultra-esquerda, mas na verdade, era principalmente uma adaptação aos preconceitos reacionários da classe média liberal que despreza o PT por ter apoio entre os trabalhadores supostamente "ignorantes" e pobres.

Camaradas, muitos de vocês podem concordar mais ou menos com a nossa crítica à política do PSTU durante o golpe. Mas pode ser que você ache que isso foi simplesmente um erro. Nós afirmamos: Não, isto não foi um erro isolado, mas o resultado de um método político errado.

Vejam a posição vergonhosa que a liderança LIT tomou durante o golpe militar no Egito ou com as mobilizações imperialistas pró-ocidentais na Ucrânia contra o governo Yanukovych, com a participação significativa de forças fascistas. No Egito, a liderança da LIT saudou o sangrento golpe do general, Sisi em 03 de julho, de 2013 como uma expressão do processo revolucionário em curso no Egito! Que escandalosa caracterização para um golpe de Estado em que a velha guarda de Mubarak - com o apoio de todas as grandes potências (por exemplo, EUA, UE, Rússia, China) - assumiu o poder, massacraram milhares de pessoas e aboliu os direitos democráticos que as massas conquistaram em 2011! O CCRI e seus camaradas no Oriente Médio se opuseram ao golpe militar desde o início e chamaram por uma frente única das organizações da classe operária e das pessoas (incluindo organizações de massa islâmicas) para resistir aos golpistas assassinos. [2]

Na Ucrânia, a liderança da LIT saudou a insurreição liderada pelo fascista setor direito (com o apoio do imperialismo norte-americano) no final de fevereiro 2014 como uma "revolução democrática". Certamente, os revolucionários não poderiam defender o governo Yanukovych, que foi um lacaio do imperialismo russo. Mas, apoiar as mobilizações reacionárias que foram iniciadas e controladas pelos imperialistas dos EUA e da UE e pelos partidos da oposição de direita e fascistas, desde o início até o fim, não é senão uma completa zombaria do marxismo! [3]

Camaradas da LIT: Como pôde tudo isso acontecer? São essas traições erros isolados? Não, se uma liderança falha repetidamente em grandes eventos da luta de classes internacional nos últimos anos, isso não é acidente; isso reflete sim um terrível método errado!

Este repetidas falhas estão relacionadas com o método da LIT que podemos caracterizar como "objetivismo fatalista" e "processo oportunista". A liderança da LIT acredita que o "processo objetivo" vai empurrar inevitável todas as mobilizações e movimentos políticos em uma direção progressista - independentemente da sua liderança, de sua composição de classe social e da sua relação de forças. Este método é justificado com referências à crise do capitalismo e a necessidade objetiva para a revolução socialista. Trotsky caracteriza este método como "objetivismo fatalista". Na verdade, a liderança da LIT ignora completamente as forças vivas da luta de classes e "a importância da atividade revolucionária com consciência de classe na história" (Trotsky). As frases da LIT sobre o "processo revolucionário" escondem uma adaptação oportunista em direção à classe média liberal.

Sim, o capitalismo enfrenta uma crise histórica e estamos vivendo em um período histórico onde a revolução socialista está na agenda. No entanto, o capitalismo em decadência, infelizmente, não só conhece a revolução socialista como uma saída, mas também conhece a barbárie. De fato, em um período tão histórico de crise capitalista, a partir do momento que se abriu a partir 2008, tanto a luta de classes dos trabalhadores e dos oprimidos, bem como os ataques das forças reacionárias estão se acelerando!

Em tal período é crucial para os revolucionários combinarem um programa de transição para trabalhar a independência de classe e para a revolução socialista com uma política concreta da tática da frente única. Essa política leva em conta a dinâmica concreta da luta de classes; que diferencia entre os agressores diretos imediatos contra a classe operária e os oprimidos e entre os podres reformistas e traidores populistas que se situam no topo das organizações populares de massa. Tal política marxista é apta a denunciar os reformistas e lideranças populistas e, ao mesmo tempo, aplicar a tática da frente única, que chama a base destas organizações de massa para as ações conjuntas (assim como colocar exigências para as suas lideranças nessas ações unificadas).

Tal política, - até mesmo com uma propaganda consistente e agitação - exige a existência de uma organização revolucionária autêntica. Tal organização não deve sucumbir em alianças estratégicas com as forças reformistas ou centristas (como o PSOL no Brasil). Isso seria apenas uma outra forma de oportunismo - oportunismo na construção do partido. Não, essa organização deve lutar por um programa revolucionário e para trabalhar a independência de classe. Deve esforçar-se para construir o partido revolucionário como a mais alta forma de organização da consciência de classe proletária. Ela deve lutar para construir o partido revolucionário como a mais elevada forma de consciência de classe operária. Ela deve manter a vanguarda consciente do caráter revolucionário do presente período histórico e da luta contra todas as formas de pessimismo pequeno-burguês (como aquele que supostamente estamos vivendo em um período caracterizado pelo colapso do stalinismo e por uma regressão na consciência de classe).

Ao mesmo tempo, uma tal organização revolucionária deve intervir na luta de classes, com uma avaliação correta das diferentes forças de classe e deve implementar a tática da frente única para as organizações de massas que, infelizmente, ainda reúnem a maioria dos trabalhadores com consciência de classe e oprimidos. Esta é a única maneira de fazer com que os trabalhadores e oprimidos rompam com suas direções reformistas traidoras!

Tememos que os companheiros que romperam com PSTU não compreenderam suficientemente as falhas metodológicas da LIT. Eles escreveram em sua declaração pública: Reconhecemos o PSTU como uma organização revolucionária. Não pensamos que é menos revolucionária agora do que antes. Mas às vezes é impossível aos revolucionários pertencer a uma mesma organização. (...) Mantemo-nos, por isso, nos marcos da Liga Internacional dos Trabalhadores, na qualidade de seção simpatizante. Nós perguntamos aos camaradas: Se o PSTU é uma organização revolucionária e a única diferença é tática, por que romper? De fato, os camaradas provavelmente sintam que os problemas políticos são mais profundos, mas não chegaram à conclusões políticas da sua ruptura organizacional.

A CCRI está construindo uma organização deste tipo. Apelamos a todos os companheiros da LIT – para sua maioria, bem como para sua minoria - a reconsiderar o método de suas lideranças e entrem em discussão e colaboração conosco! Camaradas, agora é a hora de tirar as lições certas das lutas passadas e em conjunto para construir um partido revolucionário mundial lutando pela revolução socialista!



(1) Para nossas análises sobre a Brasil, nos referimos leitores:
CCR: BRASIL: POR UMA GREVE GERAL PARA DERRUBAR O GOVERNO DOS GOLPISTAS! 10.06.2016, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/greve-geral-golpistas/

CCR: BRASIL: APÓS O IMPEACHMENT O NOVO GOVERNO MICHEL TEMER ATACA PROFUNDAMENTE OS TRABALHADORES. O golpe foi principalmente contra os trabalhadores e movimentos sociais, 31.05.2016, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-governo-temer/

CCR: O BRASIL APÓS O IMPEACHMENT DO GOVERNO DE FRENTE POPULAR DO PT. POR UMA GREVE GERAL PARA DERRUBAR O GOVERNO DOS GOLPISTAS! 20 de maio de 2016, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-apos-impeachment/

CCR: Brasil: O ÚNICO CAMINHO POSSÍVEL: DERROTAR GOLPE DO IMPEACHMENT COM INDEPENDENTES MOBILIZAÇÕES DE MASSA DA CLASSE TRABALHADORA E DOS OPRIMIDOS, 22 de abril de 2016, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/declaracao-golpe/

CCR: Da defesa dos nossos direitos a um futuro socialista! Plataforma adesão à Corrente Comunista Revolucionária-CCR (Seção do RCIT no Brasil), http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/futuro-socialista/

CCR: Brasil: A PRISÃO DE LULA É UMA OUTRA ETAPA NO PROCESSO GOLPISTA. Construir comitês de Luta! Mobilizações de Massa contra os Conspiradores Golpistas! Mas Nenhuma Confiança no Governo Pró-Austeridade do PT/PMDB! 9 de março de 2016, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/prisao-de-lula/

(2) Para nossas análises sobre a Egipto, nos referimos leitores:

CCRI: REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO NO MUNDO ÁRABE: UM CRUCIAL TESTE PARA OS REVOLUCIONÁRIOS, 31 de maio de 2015, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/revolucao-arabe/

CCRI: Egito: ditadura militar sentencia ex-presidente Morsi à morte! Abaixo o carniceiro Geral al-Sisi! Por uma Assembléia Constituinte Revolucionária! 2015/05/17, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/egypt-morsi-death-sentence/

CCRI: A revolução árabe é um marco central para os socialistas! Carta aberta a todas as organizações revolucionárias e ativistas, 04.10.2013, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/carta-aberta-revolu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A1rabe/

(3) Para nossas análises sobre a Ucrânia, nos referimos leitores:

Michael Probsting: Rússia e China – Grandes Potências Imperialistas. Um resumo da análise da CCRI, 28 de Março de 2014, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/chinese-and-russian-imperialism/

CCRI: Carta aberta a todas as organizações Revolucionária e ativistas Revolucionários. No Início de uma Nova Fase Política: Pela Unidade dos Revolucionários na Luta Contra o avanço da contra-revolução! 29/12/2015, http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/carta-aberta/



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