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http://www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/brazil-zika-virus/
Tragédias Boate Kiss e Mariana e A propagação do Zika Vírus, o que elas têm em comum? A busca desenfreada do Lucro e a exploração no sistema capitalista!
É necessário discutir o direito ao aborto!
Em janeiro de 2013 aconteceu a tragédia em Santa Maria-RS com a morte de 230 pessoas, conforme relatamos em nosso artigo da época *1. Em 05 de novembro do ano passado um tsunami de 62 milhões de metros cúbicos de lama aniquilou o vilarejo de Bento Rodrigues, um vilarejo da cidade histórica de Mariana-MG*2. Esse tsunami invadiu o rio Doce, um rio brasileiro da Região Sudeste do país, que banha os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Com cerca de 853 km de extensão, seu curso representa a mais importante bacia hidrográfica totalmente incluída na Região Sudeste. Pois bem, os resíduos de lama tóxica contaminaram todo a extensão do rio Doce alcançando o oceano Atlântico e causando o que está sendo chamado de o maior desastre ambiental da história do Brasil. O rio está tecnicamente morto. Dizem que levará dezenas de anos para sua recuperação. Milhares de pessoas desabrigadas, centenas de pescadores perderam o seu ganha-pão, o turismo afetado, vidas destruídas. A empresa causadora do desastre? A Samarco, subsidiária da poderosa multinacional Vale do Rio Doce, que por si é sócia da anglo-australiana BHP Billiton.
O zika vírus) é um vírus transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti, causa a doença conhecida como febre Zika que embora raramente acarrete complicações para seu portador, apresenta indícios de microcefalia congênita, quando adquirido por gestante, afetando o feto*3. No primeiro semestre de 2015, já havia casos confirmados em estados de todas as regiões do país. Com sintomas mais brandos que os da dengue e os da febre chikungunya (doenças também transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti), a zica chegou a ser inicialmente ignorada pelas autoridades de saúde. Porém, com a propagação do vírus pelo Brasil, chegando à América Latina e Europa não foi mais possível fazer de conta que que nada estava acontecendo. Enquanto a contaminação do zika vírus esteve restrito às camadas mais pobres da população era possível tratar o assunto como algo localizado, mas com a sua forte propagação, mesmo os moradores dos bairros mais ricos das grandes cidades estão vulneráveis.
Em início de fevereiro deste ano, a Organização Mundial de Saúde-OMS declarou que o combate ao zika vírus deve ser considerado uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Essa mesma OMS foi duramente criticada recentemente por ignorar a extensão do perigo do vírus Ebola que matou milhares de pessoas no continente africano. Quanto às olimpíadas de 2016 marcadas para o com Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) informou que seus atletas podem considerar não disputar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em agosto, horas depois o USOC veio a desmentir.
Enquanto a tragédia da boate Kiss foi resultado da ganancia empresarial que subornava funcionários públicos para ignorar as falhas de segurança, e a tragédia em Mariana seguiu o mesmo roteiro, a propagação do Zika vírus no Brasil e no resto do mundo está relacionada primeiramente à falta de condições com relação ao saneamento básico nos bairros mais pobres e favelas, ou seja, é evidentemente um problema que começou pela desigualdade social. Porém os governos municipais, estaduais e o federal preferem colocar a culpa no cidadão pelo seu “descuido em não eliminar os criadouros do mosquito”.
A repercussão nacional e mundial da possibilidade de se espalhar como uma epidemia causando a microcefalia em fetos e futuros bebês está trazendo à tona uma discussão sobre o aborto nunca visto no país. Agora tenta-se discutir sobre a liberação do aborto para além do que já é permito em lei (casos de estupro e anencefalia, quando o feto se desenvolve sem o cérebro), um recurso neste sentido está sendo elaborado para ser entregue ao Supremo Tribunal Federal-STF*4. A igreja católica e os setores religiosos conservadores já se manifestaram contra tal liberação, de qualquer forma, a tendência é que desta vez a discussão extrapole a questão moral. Em uma declaração sobre o impacto da crise para os direitos das mulheres, o Alto Comissariado do Direito das Mulheres das Nações Unidas, Zeid Al Hussein, apelou aos países afetados pelo vírus que permitam que as mulheres tenham acesso a métodos contraceptivos e ao aborto.
O aborto no Brasil já está liberado há muitos anos, mas somente para as famílias mais ricas, que quando desejam que suas filhas façam o ato pagam de 5 mil a 20 mil reais em clínicas especializadas, enquanto milhares de mulheres e jovens trabalhadoras são obrigadas a recorrer às improvisações de fundo de quintal. O website do jornal “O Globo” que entre 7,5 milhões e 9,3 milhões de mulheres interromperam a gestação no Brasil entre 2004 e 2013. Apesar de afetar milhares e custar aos cofres públicos pelo menos R$ 142 milhões por ano, o aborto continua sendo tratado como uma questão evitada nas campanhas à Presidência da República, e a maioria dos candidatos, mesmos os considerados progressistas, procuram fugir do assunto.
Nós do CCR, seção brasileira do RCIT, defendemos o direito às mulheres de decidir sobre o seu próprio corpo. Impedir a mulher de ter autonomia sobre seu próprio corpo é uma forma brutal de opressão. Em nosso manifesto (Capitulo V com o título Luta conjunta pela libertação das mulheres ! ) deixamos claro o que pensamos com relação ao tema quando afirmamos que “Em toda a história da humanidade o sistema de exploração de classe desde o início existiu lado a lado com as formas de opressão política (pelo Estado) e da opressão social de grupos específicos. (Por exemplo, mulheres, jovens, etc.) A opressão das mulheres é, portanto, profundamente enraizada na história da sociedade de classes e só podem ser eliminadas com a extinção da exploração de classe. Portanto, a luta pela libertação das mulheres é naturalmente intimamente ligada com a luta pelo socialismo. ”
*1.http://elmundosocialista.blogspot.com.br/2013/02/the-tragedy-in-santa-maria-rio-grande.html
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