quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

ARGENTINA DE MILEI: A MARCHA CONTRA O GOVERNO

 


A MARCHA CONTRA O GOVERNO, O INÍCIO DE UMA NOVA REVOLTA QUE ESTÁ EM SINTONIA COM AS VITÓRIAS POPULARES NA SÍRIA E NA PALESTINA

Por Damián Quevedo

 https://convergenciadecombate.blogspot.com/2025/02/la-marcha-contra-el-gobierno-el.html

A massiva mobilização do dia 1º de fevereiro, que teve repercussões em todo o país e em grande parte do mundo, atingiu duramente o governo. Tanto que, antes mesmo do evento, o presidente se viu obrigado a recomendar a Patricia Bullrich que não aplicasse seu “protocolo”. Esse recuo do aparato repressivo constituiu uma grande vitória para o movimento de massas. 

Além das manifestações multitudinárias previstas em outros pontos do território argentino, durante o dia houve concentrações em cidades europeias como Berlim, Roma, Paris, Barcelona, Madri, Londres, Lisboa e Amsterdã. Também foram convocadas em Santiago do Chile, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Montevidéu, Nova York e Cidade do México, entre outras cidades das Américas. 

A marcha superou em muito os convocantes e suas reivindicações, já que, de uma forma ou de outra, unificou inúmeras demandas parciais, como as dos funcionários e funcionárias do hospital Bonaparte ou a dos aposentados e aposentadas. No entanto, essa mobilização popular não deve ser caracterizada como um fato isolado ou uma resposta específica ao discurso de Milei, porque, se assim fosse, não se poderia explicar a massividade e a solidariedade internacional que teve. 

O protesto é um salto na situação política da Argentina, uma demonstração de que existem condições mais do que favoráveis para lutar e da fraqueza do governo. É, em outro sentido, um indicador de uma tendência geral. Uma ascensão operária e popular que tem características internacionais, já que faz parte do que começou a se desenvolver a partir de dois acontecimentos excepcionais: a revolução síria e, sobretudo, o avanço excepcional da luta palestina. 

Os processos revolucionários são extremamente contagiosos. Foi assim com a Primavera Árabe, que desencadeou centenas de rebeliões em todo o mundo, desde a Europa até as Américas, passando pela Ásia e África. Desde a esquerda revolucionária e todos aqueles lutadores e lutadoras honestos que veem essa perspectiva, devemos nos preparar para grandes conflitos, lutas muito mais massivas e radicalizadas, porque ainda falta o sujeito que pode inclinar definitivamente a balança: a classe operária. 

Apesar das aparências de calma ou desânimo, a classe operária argentina nunca renunciou às suas conquistas sem lutar, e o fará em um contexto diferente dos anteriores, já que existe um elemento que a radicalizará e facilitará a construção de uma nova direção combativa. É o descrédito dos dirigentes e seus podres “corpos orgânicos”, uma realidade que a esquerda deve aproveitar para se fortalecer e disputar a condução política e sindical.

A SEGUNDA PRESIDÊNCIA DE TRUMP

 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Somos latinos com muito orgulho! Abaixo o racismo e a xenofobia!

 João Evangelista 


Sim, nós brasileiros somos um povo latino, mas  não é só isso, somos latino-americanos, e não há nenhum problema nisso. Pelo contrário. A América Latina, que em sua maioria fala espanhol,(com exceção, óbvio,  do Brasil que  fala  o Português) e se estende desde  o México, passando pela  América Central,Brasil, até o extremo sul da Argentina e Chile. A região conta com pelo menos 600 milhões de habitantes. Se considerarmos somente o Brasil , passa de 200 milhões.


Precisamos sentir orgulho da nossa história latino-americana, de nossas lutas pela independência, de nossa identidade. Temos que unificar a união de todos os países da região num projeto socialista, anti-imperialista. 


A discussão sobre ser latino americano está em voga desde que o novo presidente do   império em decadência, Donald Trump, escolheu imigrantes latinos como alvo principal em seus primeiros ataques. A alegação  absolutamente falsa e discriminatória é de que os imigrantes  roubam os empregos dos cidadãos estadunidenses. A verdade é que existe uma crise econômica de vários anos  no país, o qual está perdendo à sua hegemonia mundial, com seus gigantescos déficits públicos e enfrentando uma crescente rivalidade com a nova potência mundial, a China e o desafio do surgimento do Brics. O dólar, mesmo ainda tendo o domínio no comércio mundial enfrenta a possibilidade vir a ser substituído.


No ano de 1971, o presidente  Richard Nixon desvinculou o ouro como lastro para o dólar. O dólar continuou a ser a principal moeda de reserva mundial, mas sem o lastro em ouro, seu valor passou a ser determinado pela confiança na economia americana e pelas políticas monetárias dos EUA. Uma confiança  que está cada vez mais duvidosa.


Em resumo, mesmo que grande parte dos cidadãos estadunidenses estejam empregados, a inflação e a sensação de perda de poder aquisitivo se acentuaram nos últimos anos, abrindo caminho para a extrema direita trumpista. Portanto não cabe essa  culpa aos imigrantes, sejam eles legalizados ou não. Afinal de contas, o trabalho mais pesado na agricultura, comércio, alimentação, etc, é feito pelos imigrantes. Já há estudos de que sem eles, o PIB estadunidense cairiaalgo como 17% da força de trabalho. Portanto, essa política demagógica de Trump, a médio e longo prazo, nao se sustenta. 


Portanto a necessidade urgente de mobilização tanto internamente, como internacionalmente de resistência contra essa política racista e xenofóbica. As recentes atitudes dos governos brasileiro, mexicano e colombiano são importantes  marcos de resistência que deveriam servir de exemplo para toda a América Latina.


E não se enganem. Se num primeiro momento o alvo são os trabalhadores imigrantes considerados ilegais, as consequências atingem inclusive aqueles que já estão no país há vários anos, ou seja, aqueles trabalhadores  que alcançaram a legalização, e também aqueles filhos de imigrantes que são cidadãos estadunidenses porque nasceram lá. O racismo lá, sob inspiração e incentivo da nova gestão, tende a se naturalizar ainda mais e a população negra e nativos indígenas não ficará isenta. 


 Há algo muito curioso na cultura racial nos EUA. A discriminação vai além da cor da pele. Ela também se manifesta pela língua materna do imigrante, do cidadão, ou mesmo do turista. Por exemplo, se pela nossa brasileira cultura entendemos que a modelo  Gisele Bundchen é absolutamente branca, com todos os seus privilégios étnicos. Lá ela é considerada latina. Isto é, nao branca. Chocante, certo? Mesmo ela  sendo uma figura internacional e milionária, nao é isso que a torna uma branca estadunidense. Imagine então o ator Wagner Moura, ou para finalizar…Fernanda Torres.


Pois bem, o recém empossado presidente estadunidense (recuso-me a definir os cidadãos dos EUA como americanos, afinal somos todos americanos, certo?) acaba de declarar guerra econômica contra a América Latina caso não diminuam as tarifas de importação dos produtos do império. Expulsou brasileiros e latino americanos com  absoluta falta de respeito e dignidade. Me pergunto se faria a mesma coisa com europeus ocidentais ou japoneses? Duvido!!!


Me causa espécie a forma como a nossa elite brasileira, branca, classe média, conservadora,  ama os EUA e se identifica com valores que não são os nossos. Puro vira-latismo subserviente. Essa viagem de parlamentares brasileiros, pago com o nosso dinheiro, para irem à posse de Trump batendo palmas para o opressor é vergonhoso. Ficaram de fora da festa, lógico! 


Está na hora, aliás, à passou da hora de não só valorizarmos o nosso país e a nossa cultura, como passarmos a olhar para América Latina de fala espanhola como nossos irmãos. Afinal, somos todos latinos-americanos afinal! Temos muito mais em comum que com nossos vizinhos do que com os brothers do Norte! Temos os mesmos problemas estruturais. Lutemos por uma América Latina socialista, livre, soberana,  do Oceano Pacífico ao Atlântico! Hasta la vitória, sempre!!!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A queda de Al Assad é uma vitória para o povo sírio e para os oprimidos do mundo!

 



03 de Janeiro De 2025

Declaração conjunta das organizações socialistas 

1. A Revolução Síria que começou com a revolta popular de Março de 2011, com avanços e retrocessos nestes treze anos, conduziu em 8 de Dezembro de 2024 à queda de uma ditadura de 54 anos. Este é um acontecimento histórico, tanto para o próprio país, o povo sírio, como para o Médio Oriente e o mundo. Liberou as massas populares do jugo da tirania de Assad e esmagou uma das ditaduras mais duradouras e brutais do mundo. Destruiu um pilar da ordem imperialista no Médio Oriente que era um fantoche do imperialismo russo (Putin era um dos seus apoios mais importantes), bem como o regime repressivo burguês iraniano e que possibilitava que Israel não tivesse que se preocupar com a sua fronteira nordeste. Inspira as massas da região e faz tremer os ditadores que temem o ressurgimento da Revolução Árabe. A queda revolucionária de Al Assad – independentemente do seu carácter democrático inacabado – é uma vitória para os trabalhadores e oprimidos em todo o mundo!

2. Embora tenhamos apoiado, desde 2011, a luta de libertação contra o regime de Assad, nunca tivemos ilusões nem demos apoio político às direções do movimento para a sua queda. Agora partilhamos a alegria das massas pela queda da ditadura, mas não despertamos confiança nem damos apoio político ao novo governo liderado por Al Golani. Reconhecemos que o HTS de Al-Golani e outras facções são forças nacionalistas e islâmicas pró-burguesas. A derrubada abriu um processo revolucionário no país em que as massas tentam espontaneamente organizar e punir os assassinos e torturadores do antigo regime. Contudo, os novos governantes de Damasco opõem-se a um aprofundamento deste processo revolucionário e querem construir um regime burguês que seja aceite à mesa das potências imperialistas e regionais. Para fazer isso, Al-Golani tenta pacificar o processo revolucionário e desarmar e desmobilizar as massas.

3. Denunciamos os partidos “socialistas”, “comunistas” e bolivarianos que apoiaram a ditadura de Assad como uma suposta “força anti-imperialista”, e que agora lamentam a sua queda. Espalharam calúnias contra a queda de Al Assad, alegando ridiculamente que teria sido uma conspiração entre os Estados Unidos e Israel. Estes amigos do imperialismo Russo e dos seus aliados “esquecem-se” que o regime de Assad nunca disparou um único tiro contra o Estado sionista de Israel durante mais de meio século. E se Israel tivesse orquestrado a queda do regime, porque é que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel denuncia os novos governantes de Damasco como um “gangue terrorista”? E se os sionistas dariam a bem vinda ao novo governo, porque é que a sua força aérea está lançando centenas de ataques contra alvos civis e militares na Síria para desarmar as forças revolucionárias? Na verdade, o Estado israelita do apartheid teria nitidamente favorecido a continuação da existência do regime de Assad. Não é segredo que ele manteve laços estreitos com o aparelho de inteligência de Assad, como vários meios de comunicação, como o Middle East Eye e até mesmo o reacionário sionista Israel Hayom, relataram recentemente. Será sempre uma vergonha para o estalinismo que os dois partidos “comunistas” sírios tenham feito parte do regime de Assad até ao amargo fim e apoiaram a sua guerra contrarrevolucionária contra o povo sírio desde 2011.

4. Não concordamos com aquelas organizações socialistas que, opondo-se à ditadura de Assad, se recusam apoiar a Revolução Síria, uma vez que denunciam a luta entre os rebeldes e o regime como um conflito entre “forças reacionárias” em que os socialistas não podem tomar partido , como se a revolução fosse um mero golpe de Estado que separa a profunda luta popular e democrática de massas iniciada em 2011 do seu resultado: a guerra civil e a ofensiva final dos rebeldes do 27 de novembro a 8 de dezembro de 2024, que foi apoiada e aplaudida por milhões de pessoas nas ruas. Negam erradamente o fato de que a vitória popular contra Assad é uma revolução democrática inacabada que os socialistas precisam de impulsionar no processo de revolução permanente. É dever dos revolucionários apoiar os processos revolucionários, mesmo que tenham um caráter inacabado e limitado, diferenciando-se dos seus direções.

5. A principal tarefa das massas agora é defender, aprofundar e expandir o processo revolucionário sírio. Deve defender-se contra os ataques contrarrevolucionários dos remanescentes do regime de Assad. Todas as tentativas reacionárias de fomentar o sectarismo e de discriminar as minorias étnicas e religiosas devem ser rejeitadas através da mobilização popular. Da mesma forma, as liberdades democráticas recentemente alcançadas devem ser defendidas contra as medidas autoritárias do novo regime. Para resistir às tentativas do novo governo Al-Golani de sequestrar a revolução, as massas têm de construir as suas próprias organizações independentes, regressando à experiência dos comitês de coordenação dos inícios da revolução de 2011, nos locais de trabalho, bairros e cidades, milícias armadas subordinadas aos referidos conselhos, junto aos sindicatos, associações estudantis, organizações de mulheres, etc. Como socialistas revolucionários, defendemos a formação de um governo da classe trabalhadora e dos sectores populares que nacionalize sectores-chave da economia sob o controle dos trabalhadores e abra o caminho para uma Síria socialista.

6. Neste caminho devemos apoiar a luta do povo sírio pelas medidas emergenciais promovidas pela mobilização popular. Entre estas medidas está a exigência de julgamento e punição dos torturadores, a criação de condições para o regresso de milhões de refugiados, o pleno direito de protestar e de se organizar política e socialmente, a realização de eleições livres e democráticas, garantindo a plena igualdade das mulheres em todas as áreas da sociedade e reconhecer os direitos das minorias étnicas e nacionais – como o povo curdo – de terem autonomia ou mesmo de um Estado separado, se assim o exigirem, de que os direitos de todas as comunidades religiosas do país sejam respeitados, Entre as medidas urgentes devem incluir a nacionalização sem indemnização de todos os ativos da oligarquia de Al Assad, o cancelamento das dívidas com o Irão e a Rússia – os principais responsáveis ​​pela devastação do país -, a expropriação sem indenização de empresas relacionadas com estes países, a suspensão do pagamento da dívida pública para utilizar esses recursos para satisfazer as necessidades imediatas do povo sírio.

7. Uma Síria verdadeiramente livre deve ser independente e expulsar todas as potências estrangeiras. Isto significa que tem de fechar todas as bases militares imperialistas (tanto as da Rússia como as dos Estados Unidos). Da mesma forma, deveria expulsar o exército turco, que apenas serve os objetivos de Erdoğan de oprimir o povo curdo e subjugar a Síria. É de particular importância libertar todos os territórios ocupados do Golã e expulsar as forças israelitas.

8. O destino do processo revolucionário sírio está intimamente ligado às lutas de libertação em todo o Médio Oriente e à emergência de uma alternativa política revolucionária na Síria. Portanto, é essencial que a Revolução Síria se ligue à luta de libertação palestina e declare o seu apoio inequívoco à heroica resistência contra a ocupação sionista. Da mesma forma, precisa chegar às massas oprimidas no Egito, Jordânia, Irã,Turquia e em toda a região e apoiar o seu desejo de liberdade, justiça e dignidade. Abaixo todos os faraós, reis e sultões! Esmagar o Estado Sionista, os porta-aviões do imperialismo na região! Por uma Palestina livre, secular e democrática, do rio ao mar.

9. A tarefa das forças mais avançadas dos trabalhadores e oprimidos sírios é a formação de uma nova alternativa política socialista revolucionária, que vise promover a luta para defender, aprofundar e expandir o processo revolucionário e apoiar a organização independente das massas. Esta nova direção política deve, portanto, ser construída em oposição ao novo regime e lutar pelo poder dos trabalhadores numa Síria Socialista como parte de uma federação socialista do Médio Oriente.

10. Nós, as organizações abaixo assinadas, apelamos a uma campanha de solidariedade internacional com a Revolução Síria na sua defesa contra os seus inimigos internos e externos. Esta campanha deve estar ligada a atividades de solidariedade com a luta de libertação palestina. Exigimos o levantamento imediato de todas as sanções contra a Síria. Da mesma forma, as organizações operárias e populares na Europa, na Turquia e noutros países devem opor-se a qualquer tentativa dos governos reacionários de expulsar os refugiados sírios. Além disso, apelamos também ao povo trabalhador sírio para que se auto-organize, com total independência do governo liderado pelo HTS, para lutar pelas reivindicações mais críticas para o povo trabalhador, bem como pelo poder dos trabalhadores!

Signatários:

Liga Internacional dos Trabalhadores (Secretariado Internacional) – Quarta Internacional (LIT-CI, www.litci.org)

Unidade Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional (UIT-CI, www.uit-ci.org)

Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI, www.thecommunists.net)

PS: Convidamos as organizações que concordam com isto a aderirem a esta declaração e campanha.