quinta-feira, 20 de abril de 2023

Lula, Lavrov e Xi: Nem Washington, nem Moscou e Pequim! Por uma América Latina Livre e Vermelha!

Declaração da Corrente Comunista revolucionária internacional (CCRI/RCIT), emitida conjuntamente pelo Bureau Internacional, bem como pela seção argentina, brasileira e mexicana, 19 de abril de 2023 , www.thecommunists.net


  1. A recente visita do Presidente Lula à China e seu encontro com o Ministro das Relações Exteriores russo, Lavrov, em Brasília, pouco depois, reflete uma importante mudança na situação mundial, assim como na política da América Latina. Nestas reuniões, Lula solicitou a criação de uma moeda alternativa para substituir o dólar norte-americano nas relações comerciais com outros países. Do mesmo teor Celso Amorim, seu principal assessor de política externa, declarou o apoio do Brasil à "construção de um mundo mais multipolar" sem a hegemonia dos EUA - reiterando o conceito chave para uma nova ordem mundial que vem sendo defendida por Moscou e Pequim há algum tempo.

  2. Além disso, Lula atacou Washington por "estimular" os contínuos combates na Ucrânia e acrescentou: "Os Estados Unidos precisam parar de incentivar a guerra e começar a falar de paz. A União Europeia precisa começar a falar sobre a paz". Ele chamou a Ucrânia para aceitar a ocupação russa da Crimeia a fim de "acabar com a guerra" e defendeu sua ideia de criar um chamado "clube da paz" de "países neutros" para iniciar as negociações entre Moscou e Kiev.

  3. O afastamento de Lula de Washington em direção a Xi e Putin reflete grandes mudanças na política mundial. Já a alguns anos, o imperialismo americano - hegemônico de longo prazo - enfrenta um declínio enquanto a China e a Rússia estão se erguendo como novos rivais imperialistas. Pequim tem sido o parceiro comercial mais importante do Brasil, da Argentina e de outros países latino-americanos. A mudança de Lula do Ocidente em direção ao Oriente reflete que Washington também está perdendo cada vez mais o controle político de seu "quintal". Outro resultado destes desenvolvimentos é a candidatura formal da Argentina a membro dos BRICS - uma frágil aliança entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

  4. Até agora, a influência política da China e da Rússia na América Latina era forte apenas em alguns poucos países - sendo as mais importantes com Cuba, Venezuela e Nicarágua. Com o fim da hegemonia de Washington, isto está mudando agora, e as potências imperialistas orientais estão se tornando atores importantes na política da América Latina.

  5. Não é surpreendente que numerosos estalinistas e populistas estejam torcendo por estes desenvolvimentos. O regime estalinista-capitalista em Cuba, o PCdoB brasileiro (que tem uma posição ministerial no governo Lula), o PSUV Chavista na Venezuela ou os "esquerdistas" Kirchneristas na Argentina são apenas alguns exemplos proeminentes desta tendência. Já faz muitos anos, eles elogiam a China e a Rússia como uma força "socialista", "progressista" ou "anti-imperialista" ou, pelo menos, como um "mal menor" em comparação com os Estados Unidos.

  6. A Corrente Comunista revolucionária internacional (RCIT) denuncia fortemente tal apoio às Grandes Potências Orientais. Não há nada de progressista sobre o regime de Xi ou de Putin. Ambos são governos autoritários que supervisionam a exploração capitalista brutal da classe trabalhadora em seus próprios países, bem como a opressão bárbara das minorias nacionais (por exemplo, os chechenos na Rússia ou os Uyghurs na China). Ambos estão trabalhando duro para expandir sua influência global e tomar o lugar dos EUA como uma força hegemônica.

  7. É particularmente escandaloso ouvir Lula depreciar a cruel invasão de Putin à Ucrânia e negar o caráter legítimo da guerra de defesa nacional do povo ucraniano. Tal simpatia pelo diabo reflete mais uma vez o caráter burguês do governo de frente popular de Lula. A tarefa dos socialistas é mobilizar o apoio internacional para a resistência ucraniana. Naturalmente, tal apoio não implica qualquer apoio político para o governo burguês e pró-NATO Zelensky. Além disso, os socialistas devem combinar seu apoio à guerra de libertação nacional da Ucrânia com a oposição intransigente contra o imperialismo ocidental e todas as formas de política da Grande Potência chauvinista (por exemplo, sanções econômicas). A CCRI resumiu tal abordagem no slogan: Defender a Ucrânia contra a invasão de Putin! Cuidado com a OTAN e Zelensky - transformem a resistência contra a ocupação russa em uma Guerra Popular! Contra a Rússia e contra o imperialismo da OTAN!

  8. Estes desenvolvimentos confirmam nossa análise do surgimento da China e da Rússia como novas potências imperialistas. A CCRI tem explicado já há mais de uma década que estes dois Estados não são países "semicoloniais" ou "subimperialistas". Eles se tornaram grandes potências pelos seis próprios méritos. Não são nem melhores nem piores do que as "velhas" potências imperialistas ocidentais. Os socialistas autênticos nunca dão qualquer forma de apoio às grandes potências, independentemente de serem hegemônicos de longa data em comparação com os "recém-chegados".

  9. Os socialistas na América Latina se opõem ao domínio de qualquer uma das grandes potências. Nosso continente não deve ser o quintal de nenhuma potência imperialista - nem dos EUA, nem da Europa Ocidental, nem da China e da Rússia! A única maneira de avançar é um continente que não seja dominado por monopólios e potências estrangeiras, mas que seja governado pelos trabalhadores e massas populares, ou seja, uma federação socialista de trabalhadores e repúblicas camponesas. A CCRI diz: "Nem Washington, nem Moscou e Pequim! Por uma América Latina Livre e Vermelha"!

  10. Chamamos os socialistas da América Latina que compartilham tal solidariedade com o povo ucraniano e que se opõem consistentemente a todas as Grandes Potências a unir forças. Um primeiro passo poderia ser agir em comum no Dia de Maio, emitindo declarações conjuntas ou intervindo em manifestações, respectivamente, organizando seus próprios comícios com base em tal plataforma internacionalista e anti-imperialista.


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Indicamos aos leitores uma página especial em nosso site onde são compilados mais de 170 documentos CCRI/RCIT sobre a Guerra da Ucrânia e o atual conflito OTAN-Rússia: www.thecommunists.net/worldwide/global/compilation-of-documents-on-nato-russia-conflict/. Em particular, nos referimos ao Manifesto da RCIT: Guerra da Ucrânia: Um ponto de viragem da importância histórica mundial. Os socialistas devem combinar a defesa revolucionária da Ucrânia contra a invasão de Putin com a luta internacionalista contra o imperialismo russo, bem como da OTAN e da UE, 1 de março de 2022, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/manifesto-ukraine-war-a-turning-point-of-world-historic-significance/#anker_2 ; ver também: Manifesto no Primeiro Aniversário da Guerra da Ucrânia. Vitória para o heroico povo ucraniano! Derrotar o imperialismo russo! Sem qualquer apoio ao imperialismo da OTAN! 10 de fevereiro de 2023, https://www.thecommunists.net/worldwide/global/manifesto-on-first-anniversary-of-ukraine-war/#anker_3