Quando o presidente Lula acusa Israel de praticar genocídio em Gaza, ele por acaso está errado?
Por João Evangelista
No último dia da primeira viagem internacional do ano, em 18 de Fevereiro, em que visitou Egito e Etiópia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom das críticas a Israel, provocando uma dura reação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de aliados dele no Brasil e no mundo. Em viagem a Adis Adeba, capital da Etiópia, Lula começou por criticar os ataques do Hamas em 07 de outubro de 2023, e prosseguiu afirmando que a reação israelense contra a Faixa de Gaza está sendo desproporcional e similar à Hitler, quando o regime nazista matou na Segunda Guerra Mundial milhões de judeus, ciganos, comunistas e homossexuais: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula, ao responder uma pergunta sobre a decisão do Brasil de manter doação de recursos para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês).
Netanyahu reage a fala de Lula
Depois das declarações, Netanyahu convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para prestar esclarecimentos. O gesto, no protocolo diplomático, significa grave descontentamento com as posições do país. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense. Binyamin Netanyahu, declarou que comparar as ações dos nazistas na Europa com a ação do Estado de Israel em Gaza era inadmissível, e chamou a declaração de Lula de antissemita – neste caso discriminação contra os judeus: ““As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, escreveu o premiê israelense em sua conta verificada na rede social X.
No dia seguinte, o Estado de Israel montou uma provocação e convocou o embaixador brasileiro para “reprimendas” em um local público, o memorial do Holocausto Yad Vashem na Jerusalém ocupada, onde o ministro israelense de relações exteriores, Israel Katz, declarou que o presidente Lula é “persona non grata”.
Logo em seguida o governo brasileiro então decidiu retirar seu embaixador de Tel Aviv por dez dias, um sinal diplomático de desacordo com a provocação sionista. As últimas notícias vindas do governo brasileiro indicam a possibilidade ( ainda que remota) de expulsão do embaixador de Israel no Brasil ser expulso. Tudo depende de como vai evoluir essa crise.
No entanto, está errado o presidente Lula ao acusar o Estado de Israel de praticar genocídio contra o povo palestino?
Recentemente o governo da África do Sul, um país onde por décadas a sua população nativa sofreu o regime de Apartheid, acionou o Tribunal Internacional de Justiça-TIJ com a mesma acusação de que Israel pratica genocídio em Gaza, a qual mais da metade dos países do mundo compartilhada mesma opinião. Nosso companheiro Michael Probsting, secretário Internacional da Corrente Comunista revolucionária Internacional-CCRI, lançou recentemente um artigo sobre essa questão, no qual reproduzimos sobre o requerimento do governo África do Sul ao Tribunal Internacional de Justiça-TIJ contra o genocídio praticado em Gaza por Israel: “Em primeiro lugar, o tribunal aceitou quase por unanimidade – apenas o juiz Sebutinde, nomeado pela ditadura pró-imperialista do Uganda foi o único que votou consistentemente contra todas as disposições – a acusação da África do Sul de que Israel comete um genocídio em Gaza é “plausível”. “Na opinião do Tribunal, os fatos e circunstâncias acima mencionados são suficientes para concluir que pelo menos alguns dos direitos reivindicados pela África do Sul e para os quais procura proteção são plausíveis. Este é o caso no que diz respeito ao direito dos palestinianos em Gaza a serem protegidos de atos de genocídio e atos proibidos relacionados identificados no Artigo III, e ao direito da África do Sul de procurar que Israel cumpra as obrigações deste último nos termos da Convenção.” (§ 54). (1)
A mídia burguesa corporativa do Brasil, liderada pela Rede Globo, se uniu em bloco para criticar a fala do presidente brasileiro, na prática defendendo o massacre perpetrado por Israel, acusando o presidente de antissemitismo, mesmo tendo ele criticado as ações do Hamas. Uma mídia tão subserviente ao sionismo que, como porta-voz de Netanyahu exige imediatas desculpas ao Estado de Israel, algo que nem mesmo os EUA e a o imperialismo Europeu exigiram
Em resposta às críticas recebidas por Lula, o Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) expressou “total solidariedade” ao presidente brasileiro e afirmou que é apropriada a comparação entre a ação de Israel em Gaza e a de Adolf Hitler na Alemanha nazista. “Enquanto a intenção de Hitler era a eliminação dos judeus, a de 'Israel' consiste na aniquilação do povo palestino, em uma operação de limpeza étnica. Nesse sentido, os nazistas e os sionistas podem ser considerados entidades irmãs siamesas”, afirmou, em nota, Ahmed Shehada, presidente da Ibraspal.
Os defensores do sionismo, tanto indivíduos como Estados, por exemplo os governos dos países imperialistas do ocidente tem como prática acusar falsamente todos aqueles que são contra o Estado de Israel com a denominação pejorativa de antissionista, como se nós todos praticássemos o ódio contra todos os povos de origem judaica. Nada mais falso do que isso. Isso se concretiza em processos judiciais contra militantes antissionistas de longa data, como por exemplo o nossos camarada Michael Probisting, que está sendo investigado pelas autoridades de Viena, na Áustria, como tendo supostamente incentivado o terrosismo. Veja relato em nosso artigo de 01 de Fevereiro. (2)
Na verdade, nós da Corrente Comunista Revolucionária-CCR, seção brasileira da CCRI, vamos além: defendemos o rompimento de relações com o Estado de Israel conforme nosso artigo intitulado “Que o Governo Lula rompa relações com o Estado sionista de apartheid de Israel!” (3). Reiteramos que, enquanto o Estado sionista existir, os palestinos continuarão sofrendo com o terrorismo de Estado! É por isso que defendemos a perspectiva socialista de uma Palestina democrática e vermelha. Apoiamos a luta pela destruição do Estado sionista e o direito de retorno de todos os refugiados palestinos.
(2) https://elmundosocialista.blogspot.com/2024/02/o-sionismo-pretende-silenciar-nosso.html
(3) https://elmundosocialista.blogspot.com/2023/11/que-o-governo-lula-rompa-relacoes-com-o.html
Remetemos os leitores para uma página especial em nosso site, onde estão compilados todos os documentos da CCRI-RCIT sobre a Guerra de Gaza compilados, https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/compilation-of-articles-on-the-gaza-uprising-2023/