sexta-feira, 25 de setembro de 2020

BUROCRACIAS SINDICAIS DECRETAM O FIM DA GREVE DOS TRABALHADORES DOS CORREIOS

 

Declaração da Corrente Comunista Revolucionária-CCR

Por João Evangelista

25 de setembro de 2020

 



 

  Os trabalhadores dos Correios que estavam em greve em todo o país, há 36 dias, foram orientados pelas suas direções sindicais  aceitarem a situação de rebaixamento salarial e privatização imposta pelos patrões através do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e retornar ao trabalho imediatamente, perdendo 70% dos direitos e benefícios contidos no acordo coletivo.

  Em resumo, no dia 21 de setembro, os diretores da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios-CUT) que estavam em Brasília, em ato Nacional de greve, logo após a decisão do TST  que implicava uma enorme perda salarial  deram um informe para que os trabalhadores dos Correios continuassem em greve.

  No entanto, a burocracia sindical que controla o sindicato dos correios  nas principais economias do País, São Paulo e Rio de Janeiro, a Federação Interestadual dos sindicatos dos Trabalhadores dos Correios- Fintect, comandada pelo PCdoB recomendou o contrário, ou seja, a aceitação do acordo imposto pelo tribunal. Um acordo tão absurdo que resultou na perda de 50 das 79 clausulas, que representavam tudo que os trabalhadores da ECT conquistaram ao longo de mais de 35 anos de luta, inclusive foi retirado o amplo direito de organização sindical. Com a retirada traiçoeira de Rio e São Paulo comandada pela Fintect,  a Fentect  voltou atrás e também recomendou pelo fim da greve em âmbito nacional. A direção da Fentect ao cometer essa  grave capitulação  chegou ao ponto de afirmar que “A greve por si só é já uma vitória.”

  Por mais que essas direções sindicais tentem cantar vitória, a volta ao trabalho nessas condições é uma grande derrota que vai facilitar em muito o aumento de ataques da do governo Bolsonaro com fins de perdas de direitos trabalhistas privatização da empresa.

  Nos últimos dias antes do final da  greve tanto as direções da Fentect como a da Fintect apostaram em obter uma  vitória no Tribunal Superior do Trabalho, porém o que ocorreu foi o contrário. Essas direções ainda não entenderam a lógica do golpe em 2016 em que o judiciário em seu conjunto, incluído a Suprema Corte, foi uma das bases de apoio e confirmação do golpe que culminou com impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Já passou da hora de terminar com as ilusões com a democracia burguesa.

  Cabe uma reflexão sobre o momento da conjuntura nacional em que existe um poderoso ataque das elites financeiras e do governo Bolsonaro contra a classe trabalhadora. Trata-se de uma guerra contra os pobres e assalariados. Essa greve dos correios estava forte, e até então poderia ter obtido uma vitória que influenciaria o resto do conjunto dos trabalhadores à resistirem às privatizações, ao desmonte da previdência, ao corte de gastos públicos por 20 anos, à reforma trabalhista, etc. Por isso é inadmissível  a forma como essa greve terminou. A Fentect dirigida pela CUT que tem  fortes laços com o PT, capitulou  a uma verdadeira traição praticada Fintect que  tem laços com a Central sindical CTB que por si é uma central  criada pelo PCdoB. Aliás, por que essa divisão no seio dos trabalhadores dos correios? Isso só facilita o trabalho do governo Bolsonaro e do seu ministro radicalmente neoliberal Paulo Guedes.  Se antes do golpe em 2016 essa divisão já era danosa aos interesses dos trabalhadores, nesse momento essa divisão é desastrosa em tempos que exigiria a união de todos os setores e principalmente com uma política  sem capitulações que que levem a esse tipo de derrota.

 

  A base de trabalhadores dos correios, composta de mais de 100 mil professionais em todo país precisa se organizar, se mobilizar e definitivamente derrubar esses dirigentes sindicais capazes de tal capitulação e seguir na luta pela  unificação  em âmbito nacional, para organizar a categoria para enfrentar o processo de privatização dos Correios que muito provavelmente virá após a derrota do acordo coletivo desse ano. Uma derrota que pode ser histórica.



quarta-feira, 16 de setembro de 2020

SOMBRAS DE GUERRA NO MEDITERRÂNEO ORIENTAL

 Sombras  de guerra no Mediterrâneo Oriental

 

Abaixo a agressão imperialista da UE, de Israel e  dos tiranos árabes contra a Turquia! Apoiem a atual Revolução Árabe!

Declaração da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI/RCIT), 14 de setembro de 2020, www.thecommunists.net

 

Nota do Conselho Editorial: A declaração a seguir resume e atualiza em poucas palavras  nossa análise e táticas sobre o conflito no Mediterrâneo Oriental. Para uma elaboração detalhada, recomendamos aos leitores as extensas teses do RCIT sobre este assunto (“A Turquia e as tensões crescentes no Mediterrâneo Oriental”, veja abaixo).

                                                * * * * *

 

1. As tensões militares no Mediterrâneo Oriental estão tornando como uma possibilidade realista uma  guerra na Europa com a participação das Grandes Potências imperialistas pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Como este conflito envolve vários estados de três regiões diferentes - Mashriq no Oriente Médio, Magrebe do Norte da África, assim como a Europa - isso tem dimensões verdadeiramente internacionais.

2. É crucial para os revolucionários compreender a natureza complexa deste conflito e assumir uma posição de princípios. A Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI/RCIT) faz um chamado a continuar a apoiar as lutas de libertação popular em curso na Síria, Líbia, etc. contra as forças da contrarrevolução (Assad, Haftar, ...) e, ao mesmo tempo, a defender a Turquia contra a agressão imperialista da UE,  da Grécia, de Israel, dos Emirados Árabes Unidos e do General Sisi do Egito.

3. Nas aparências, o conflito no Mediterrâneo Oriental parece ser uma rivalidade das potências regionais pelo controle das vastas reservas de gás da região. Sem dúvida, tais interesses econômicos antagônicos dos estados envolvidos existem e constituem um elemento importante neste conflito. No entanto, a raiz deste conflito é muito mais complicada, pois ocorre no contexto de profundas convulsões na luta de classes regional, assim como na configuração das potências imperialistas e regionais.

4. O processo revolucionário no mundo árabe, que começou em 2011, foi o evento de luta de classes global mais profundo desde o período 1968-76. Esse processo derrubou vários ditadores (por exemplo, Ben Ali, Mubarak, Gaddafi e Saleh), abriu guerras de libertação popular de longa duração (na Síria contra a ocupação russo-iraniana-Assadista; no Iêmen contra a invasão da Arábia Saudita / Emirados Árabes Unidos e na Líbia na resistência da ao comandante da contrarrevolução Khalifa Haftar) e também passou por uma série de derrotas amargas (por exemplo, o golpe militar do general Sisi no Egito). Vergonhosamente, numerosas forças estalinistas e centristas assumem uma posição neutra nessas lutas ou mesmo apoiam os tiranos árabes e seus apoiadores imperialistas.

5. Esses eventos convulsivos também provocaram a formação de duas “Santas Alianças” contrarrevolucionárias”. Um é o eixo do imperialismo russo, Irã, Hezbollah e a ditadura de Assad; o outro consiste na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos (EAU) e no Egito em estreita aliança com o imperialismo dos EUA e de Israel.

6. Em contraste com essas duas alianças contrarrevolucionárias, alguns estados esperam manipular entre as Grandes Potências e promover seus interesses explorando e ajudando materialmente a várias lutas de libertação. Este é particularmente o caso da Turquia, que empresta apoio limitado às forças de libertação restantes em Idlib, assim como apoia o governo líbio GNA. Outro exemplo é o apoio tácito da Turquia aos líderes exilados da Irmandade Muçulmana que enfrentam perseguição pela ditadura egípcia. O Catar, um aliado da Turquia, desempenha um papel semelhante, embora em um grau mais limitado (por exemplo, sua ajuda financeira para Gaza dominada pelo Hamas).

7. Como a  CCRI tem apontado repetidamente, recusamos dar qualquer apoio político ao governo burguês-islâmico de Erdoğan. Apoiamos o direito à autodeterminação nacional do povo curdo. Além disso, o apoio da Turquia às lutas de libertação na Síria e na Líbia é um presente contaminado. Em troca de seu apoio material (incluindo militar), Ancara tenta obter negócios vantajosos. Além disso, tenta aumentar seu controle sobre as forças de libertação da Síria, e respectivamente  do governo líbio. Isso não é apenas perigoso por si só, pois liquida a influência popular sobre as forças de libertação. Também é prejudicial, pois o regime de Erdoğan tenta promover seus interesses políticos e econômicos fechando acordos com o imperialismo russo e americano (por exemplo, o processo Astana / Sochi que visa liquidar a Revolução Síria).

8. O imperialismo europeu - em particular seus estados membros mediterrâneos liderados pela França - acelerou enormemente as tensões na região. Eles apoiam totalmente a Grécia e Chipre e suas reivindicações contra a Turquia. Essas reivindicações - baseadas no Tratado de Lausanne de 1923, que as Grandes Potências impuseram à Turquia - negam efetivamente a Ancara qualquer parcela significativa do controle marítimo, apesar de ser o país mediterrâneo mais populoso depois do Egito. Vergonhosamente, o KKE stalinista e outras forças de "esquerda" na Grécia são os porta-estandartes de longa data do chauvinismo de Atenas, ao mesmo tempo que clamam pela "defesa intransigente" de suas fronteiras marítimas contra a Turquia.

9. Os projetos de gasodutos conjuntos planejados entre a Grécia, Chipre, Israel e o Egito deveriam permitir o abastecimento de gás natural da Europa a longo prazo (o que, por sua vez, reduziria a dependência da UE das importações de gás da Rússia). É por isso que esses estados estão determinados a frustrar os planos da Turquia e da Líbia de desenvolver sua exploração conjunta de reservas de gás natural no Mediterrâneo Oriental, já que sua “Zona Econômica Exclusiva” cortaria ao meio os planos de gasodutos da UE, Israel e Egito.

10. Existem também dois fatores adicionais que impulsionam a guerra agressiva dos governos europeus contra a Turquia. Em primeiro lugar, esta campanha serve para  promover a formação da UE como um bloco militar independente que não depende totalmente dos EUA e respectivamente   da OTAN. Em segundo lugar, deve reforçar sua agenda islamofóbica, justificada pelo secularismo burguês (por exemplo, França), assim como pela ortodoxia cristã (por exemplo, Grécia, Europa Oriental), que é dirigida contra o grupo de imigrantes muçulmanos em rápido crescimento na UE.

11. Mais recentemente, o imperialismo dos EUA também declarou seu apoio oficial a Chipre e suas reivindicações contra a Turquia. Além disso, os EUA também decidiram suspender um embargo de armas de 33 anos contra Chipre.

12. Em resumo, as tensões no Mediterrâneo Oriental não representam um conflito entre duas  iguais maldades . De um lado, há uma aliança contrarrevolucionária do imperialismo europeu com Israel e várias ditaduras árabes (com o apoio dos EUA). Em outras palavras, é um bloco totalmente reacionário de imperialismo, sionismo e tiranos árabes. Do outro lado está a Turquia, uma avançada semicolônia. Ancara tenta promover seus interesses manobrando entre as Grandes Potências e apoiando taticamente várias lutas de libertação. Se este conflito terminar com uma vitória da “Santa Aliança”, isso fortaleceria a UE imperialista, Israel e também os tiranos árabes. Ao mesmo tempo isso enfraqueceria as lutas de libertação na Síria, Líbia e Palestina.

13. Os revolucionários devem se esforçar para evitar tal resultado. , do sionismo e da tirania, assim como em relação ao destino das contínuas lutas de libertação popular no mundo árabe. É por isso que a CCRI  apela à defesa da Turquia contra a agressão imperialista-sionista-tirânica sem dar qualquer apoio político ao governo de Erdoğan. Tal defesa deve ser combinada com apoio incondicional à Revolução Árabe em curso e à luta de libertação palestina. Apelamos a uma única Intifada em todo o Oriente Médio - de Bagdá e Beirute, Idlib, Trípoli, Sanaʽa, Gaza, Cairo, Argel, Cartum a Teerã - como o caminho a seguir para a Federação Socialista do Oriente Médio apelamos à construção de um movimento de solidariedade internacional contra a guerra que caracterizamos como contrarrevolucionária no Mediterrâneo Oriental.

* Derrotar a agressão imperialista da UE-Grécia-Israel-Emirados Árabes Unidos-Egito contra a Turquia!

* Não a quaisquer sanções da UE contra a Turquia!

* Em qualquer conflito militar: Derrota dos agressores imperialistas-sionistas - Vitória para a Turquia!

* Apoiem a revolução síria em curso contra a ocupação russo-iraniana-assadista!

* Solidariedade com a Líbia contra a contra-revolução comandada pelo General Haftar!

* Defendam o Iêmen contra a invasão da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos!

* Abaixo a “Normalização” com Israel!

* Esmagar o estado sionista - Vitória da luta de libertação palestina!

 

Secretariado Internacional da  CCRI/RCIT


                                                       

 

                                                    * * * * *

 Encaminhamos os leitores ao extenso documento da RCIT sobre o conflito no Mediterrâneo Oriental:

RCIT: Turquia e as crescentes tensões no Mediterrâneo Oriental. Teses sobre as complexas contradições entre potências imperialistas e regionais, a Revolução Árabe e as táticas consequentes dos marxistas, 28 de agosto de 2020,
https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/turkey-and-the-growing-tensions-in-eastern-mediterranean/
Veja também os seguintes documentos:
O ditador egípcio Sisi ameaça invadir a Líbia. Derrote o bandido contrarrevolucionário Haftar e os poderes atrás dele! 24 de junho de 2020,
https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/egypt-s-dictator-sisi-threatens-to-invade-libya/

Michael Pröbsting: Perspectivas Mundiais 2018: Um Mundo Grávida de Guerras e Revoltas Populares. Teses sobre a Situação Mundial, as Perspectivas para a Luta de Classes e as Tarefas dos Revolucionários, RCIT Books, fevereiro de 2018,
https://www.thecommunists.net/theory/world-perspectives-2018/

Documentos da RCIT sobre a segunda onda da Revolução Árabe: https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/collection-of-articles-on-2nd-wave-of-great-arab-revolution/.

Documentos da RCIT sobre a Revolução Síria:
https://www.thecommunists.net/worldwide/africa-and-middle-east/collection-of-articles-on-the-syrian-revolution/