segunda-feira, 11 de abril de 2022

Eleições francesas, uma péssima perspectiva para o imperialismo gaulês

 


11 de abril de 2022

 

Por Damián Quevedo

Integrante da  seção argentina da Corrente Comunista Revolucionária Internacional – CCR/RCIT

O futuro governo da França será debatido entre dois candidatos que são - em grande parte - forasteiros da política clássica francesa. O país onde nasceu a concepção "republicana" está, como seus pares no resto do mundo, passando por uma crise institucional. Basicamente, isto demonstra, ainda que de forma distorcida, o descalabro do regime que, durante anos, os capitalistas favoreceram para dominar a democracia representativa como um todo. 

O extremismo de direita disfarçado de bem educado virou mais uma vez o sistema político francês de cabeça para baixo. A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, disputará o segundo turno das eleições presidenciais contra o mesmo rival que a derrotou há cinco anos: o presidente  Emmanuel Macron. O atual chefe de estado ganhou por 28,5% dos votos, quatro a mais do que em 2017, contra a Marine La Pen com seus 23,2%, dois a mais do que então. Em terceiro lugar, com uma diferença de décimos, estava a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon[1].  

As principais expressões políticas que se enfrentarão para a presidência não vêm dos partidos tradicionais que se alternaram no governo durante décadas. Uma delas, a social-democracia ou "socialismo francês", que esteve à frente do executivo por vários mandatos, está prestes a desaparecer, com pouco mais de 2% dos votos expressos. 

Por outro lado, o regime francês está enfrentando um nível histórico de abstinências: As pesquisas refletem uma taxa de abstenção de cerca de 30%, muito superior à registrada no primeiro turno das eleições de 2017 (22,2%) e acima do recorde alcançado em 2002 (28,4%). A última pesquisa publicada pela Ipsos afirma que apenas 69% dos franceses estão "certos" de votar neste domingo e 11% estão "quase certos"[2].  

Esta realidade evidenciou a existência da crise de que estamos falando, já que o regime político não foi capaz de continuar com a habitual, pelo menos durante os anos anteriores, alternância dos partidos patronais encarregados de sustentar a governabilidade do imperialismo francês, um dos mais poderosos do mundo. 

Nem a votação entre dois partidos ultra-reaccionárias significa a existência de uma tendência de direita no movimento de massas, mas sim o produto da crise institucional, agravada pela guerra na Ucrânia. Este último empurra o todo, como sempre foi o caso - no início de todas as guerras européias - para um certo grau de conservadorismo ou, em outras palavras, de chauvinismo.

Entretanto, visto em perspectiva, este não é o elemento central do processo, mas a ruptura com os partidos tradicionais, que deixa a burguesia sem organizações fortes, capazes de conter, desviar ou esmagar a próxima ascensão operária e popular, que explodirá irremediavelmente, devido à pressão do ajuste, que é algo que os imperialistas gauleses não poderão deixar de aplicar. 

Estas eleições, que resultarão na vitória de um ou outro dos partidos patronais - o que for mais reacionário - não implicam que a classe trabalhadora na França tenha entrado num período de "retirada estratégica", como alguns esquerdistas reconvertidos sugerem. Entre outras coisas, a guerra necessariamente trará um aumento da migração, fato que, além de alimentar o chauvinismo de certos setores, também lançará milhões de trabalhadores migrantes e precários na luta. 

Os "coletes amarelos" têm sido, nos últimos anos, um anúncio antecipado do que está por vir na França, que mais cedo ou mais tarde estará novamente no olho do furacão da luta de classes européia. Os revolucionários devem, neste contexto, preparar-se para as próximas lutas, assumindo as possibilidades de liderar grandes batalhões de trabalhadores e trabalhadoras, que provavelmente serão, como já aconteceu em outras ocasiões, a vanguarda continental. 

 

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