Na última sexta feira, dia 23 de outubro de 2015, no Congresso dos Profissionais da Educação do Município de São Paulo-SINPEEM, um dos dirigentes máximos do PSTU, Valério Arcary, deu um depoimento sobre conjuntura nacional em que expôs o pensamento e as estratégias do seu partido com relação ao momento atual, ou seja, a crise política e econômica por que passa o país.
Em resumo, o partido, na voz de Valério Arcary, enxerga na atual tentativa de setores radicais de direita tais como os grupos “Vem Pra Rua”, “Movimento Brasil Livre-MBL” e “Revoltados on Line” e nas grandes manifestações anti-Dilma iniciadas em abril deste ano como um autêntico movimento de popular e de massa contra o governo e, portanto, em sua opinião, isso deve ser reforçado para a derrubada da presidente.
Arcary, em suas próprias palavras, define que o atual momento se remete ao antigo ditado chinês que diz: “Crise é oportunidade! ”. Ou seja, é esse o momento em que a massa de trabalhadores urbanos e do campo deve derrubar o governo e provavelmente instalar um processo revolucionário comandado sabe-se lá por quem. Sim, pois não é possível enxergar qual partido Revolucionário hoje está em condições de disputar com os organizados grupos de direita fascistas ou semi-fascistas o lugar do lulismo-petismo.
Arcary reconhece que no ano vindouro, esteja quem estiver no governo, serão aplicadas as mais duras medidas de austeridade contra o povo brasileiro, inclusive contra essa pequena-burguesia que tanto fala “contra a corrupção”. E ainda diz que nesse processo milhares de trabalhadores irão para as ruas contra os pacotes. Porém, ele vê nesse cenário a “oportunidade” de grupos de esquerda se sobressaírem tais como o PSOL nas próximas eleições ou mesmo o próprio PSTU.
Mas vamos à realidade.
Honduras, junho de 2009, o presidente Manuel Zelaya, ao ameaçar estreitar laços com o bolivarianismo de Hugo Chavez, portanto incomodando o imperialismo estadunidense, foi celeremente colocado em um avião, de pijamas, sofreu impeachment pelo congresso e logo após começou um forte processo de repressão que vitimou milhares de militantes de esquerda e sindicalistas.
Paraguai: No dia 22 de junho de 2012, o presidente Fernando Lugo foi destituído do cargo pelo Senado, por 39 votos a 4, depois de um rápido julgamento político em que foi considerado culpado por “mau desempenho”, sendo substituído pelo vice-presidente Federico Franco. O processo de impeachment durou menos de 36 horas. Embora tenha acatado o veredito, Lugo declarou que considerava o impeachment como um golpe. O vice-presidente Federico Franco assumiu o cargo da presidência do país no mesmo dia da consumação do impeachment.
Egito: julho de 2013, milhares de manifestantes saudaram o golpe militar que derrubou o presidente eleito Mohamed Morsi comandado pelo general Al-Sisi. Eles esperavam que com a queda de Morsi pelo exército, em pouco tempo seriam chamadas novas eleições livres e democráticas, mas o que testemunhamos é uma feroz ditadura que cassou direitos trabalhistas, direitos de greve, de manifestações, e foram além: Hoje mais de 300 militantes estão condenados à morte, inclusive o próprio Morsi. O PSTU apoiou o golpe militar como uma “Nova Revolução”.
Ucrânia:Fevereiro de 2014, após o presidente Viktor Yanukovych meses antes ter se recusado a fazer uma aliança econômica com a União Européia-EU, várias manifestações (Movimento de Maidan) nitidamente com tendências fascistas orientadas e financiadas pelo imperialismo estadunidense e europeu desembocaram no golpe que derrubou o presidente e imediatamente começaram as perseguições aos grupos e militantes de esquerda, culminando com o assassinato de 46 militantes na Casa dos Sindicatos de Odessa através de um incêndio criminoso provocados pelas hostes fascistas e pela polícia. Na Ucrânia desenvolveu-se uma guerra civil entre a população pró-russa e pró-européia que dura até hoje. O PSTU considerou a revolta de Maidan também como uma Revolução.
Todos esses golpes foram orientados pelo imperialismo estadunidense e europeu tendo como alvos os imperialismos de Rússia e China. No caso da América Latina, além de procurar enfraquecer a presença da China e mesmo da Rússia, quebrar o sistema de alianças e influência do bolivarianismo chavista.
A reaproximação de Obama com Cuba e o Irã está dentro deste contexto.
No Brasil não é diferente na atual crise política fomentada pelos grupos radicais de direita, mencionados acima, diretamente financiados pelos EUA. O que determina o projeto de derrubada do governo Dilma Rousseff não é a corrupção, nunca foi. O imperialismo e a burguesia brasileira com ele afinada quer a derrota total de qualquer governo de tendência popular e principalmente o rompimento dos acordos comerciais com o bloco Russo-Chinês.
Nós, da Corrente Comunista Revolucionária-CCR, já elaboramos em vários artigos que de forma alguma defendemos o governo Dilma Rousseff ou mesmo do ex-presidente Lula da Silva. Apesar de certos avanços sociais com os setores mais populares alavancados pelos preços das matérias-primas nos primeiros mandatos de Lula da Silva, os trabalhadores precisaram muitas vezes ir às greves para combater as medidas de austeridade dos governo Lula-Dilma. A reforma da previdência, a manutenção do Fator Previdenciário, a ajuda aos banqueiros, o envio de tropas ao Haiti a mando do imperialismo americano, o arrocho salarial dos servidores públicos, os subsídios à empresas automobilísticas ao mesmo tempo em que elas demitiam milhares de trabalhadores, a aliança com a burguesia, primeiro na figura do falecido empresário Jose Alencar e logo após com o PMDB de Michel Temer, tudo isso já configurava que os governos petistas estavam comprometidos demais com o sistema capitalista e com a forma burguesa de governar. As denúncias de corrupção desde o Mensalão até a Lava-jato são uma clara demonstração da adaptação do Petismo e do Lulismo ao sistema. A corrupção é parte do DNA do sistema capitalista e o PT sempre esteve longe de qualquer projeto socialista.
Porém o que está em jogo neste momento não é a “Luta Contra a Corrupção” que tanto alardeia a poderosa mídia radio-televisiva (Globo-CBN-Jovem Pan- Band, etc). Caso o problema fosse realmente a corrupção não seria autorizada pelo TSE a eleição de políticos como o deputado federal Paulo Maluf, nem de outras figuras da república do tipo Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Fernando Collor, etc.
O que está em jogo é muito maior. Os acontecimentos em Honduras, Paraguai, Egito e Ucrânia fazem parte de um plano geopolítico numa nova Guerra Fria. Somente uma ampla mobilização popular junto com o movimento de massa, os movimentos de trabalhadores, as centrais sindicais, movimentos sociais para impedir o golpe e ao mesmo tempo exigir do governo Dilma o rompimento total com os partidos burgueses e o fim dos planos de austeridade.
Para ver nosso artigos sobre a análise de conjuntura nacional veja:
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-apos-jornadas-de-junho/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-protestos/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brazil-elections/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/golpismo-fascista/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/manifestacoes-golpistas/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/panfleto-29-5-2015/
http://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/contra-golpe-fascista/