Camarada Kumarasamy Kamalanathan (1960-2025)

 

Camarada Kumarasamy Kamalanathan (1960-2025)

Obituário (com fotos) de Michael Pröbsting, Secretário Internacional da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI), 9 de julho de 2025. www.thecommunists.net

 

É com grande pesar que tomamos conhecimento do falecimento do nosso camarada cingalês Kumarasamy Kamalanathan, ocorrido em 3 de julho. Ele deixou a esposa Punniyaseela, suas duas filhas, Praaveena e Bhavithra, o filho Pradeepan e os genros Kamaladhaashan e Sivaraja, além de muitos amigos e camaradas.

Nascido em 14 de outubro de 1960 em uma família tâmil, Kamal – como era chamado por amigos e camaradas – passou toda a sua vida no distrito de Nuwaraeliya, na província central. Este distrito abriga vastas extensões de terra com as famosas plantações de chá do país. Antes de se tornar um pequeno agricultor, Kamal trabalhou como fotógrafo (que permaneceu seu hobby por toda a vida), como escriturário em uma fazenda e como professor. Ele compartilhava as condições de vida das massas tâmeis que enfrentam a superexploração e a opressão nacional. Muitos deles vivem em vilarejos pequenos, isolados e pobres, que frequentemente têm acesso limitado a eletricidade e água. Um número crescente de trabalhadores de plantações sofre com a informalização do trabalho, o que permite que os proprietários das fazendas evitem o fornecimento de seguridade social. Hoje, o salário mínimo diário dos trabalhadores de plantações de chá é de apenas 2,78 dólares americanos. Além disso, eles sofrem regularmente discriminação por parte das autoridades e da polícia, dominadas pelos cingaleses. (1)

O camarada Kamal foi um lutador vitalício pela justiça social. Dedicou-se a melhorar as condições de vida dos trabalhadores das plantações e dos pequenos camponeses, organizando-os em sindicatos. Como presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Lanka Unido, trabalhou incansavelmente para ajudar seus colegas. Recentemente, colaborou com Sivagnanam Prabaharan (coordenador do Centro de Pesquisa Social do Interior) e Herman Kumara (membro do Comitê Central da Aliança do Sul da Ásia para a Erradicação da Pobreza) para esse fim.

Kamal também foi trotskista por muitos anos. No final de 2011, juntou-se ao grupo em torno do nosso falecido camarada Maruthei Thangavel. (2) Assim como os membros fundadores da CCRI, esses camaradas foram expulsos burocraticamente pouco antes de nossa organização predecessora – a Liga pela Quinta Internacional. Uma das razões para essa cisão foi nosso apoio consistente ao programa de libertação nacional dos povos oprimidos – no caso do Sri Lanka, isso se referia à defesa de um Estado tâmil independente, caso a maioria dos tâmeis assim o desejasse. Assim, juntamente com camaradas no Paquistão e nos EUA, rapidamente encontramos um ponto em comum para unir forças na construção de uma nova organização internacional, a Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI). (3)

Durante uma das minhas viagens ao Sri Lanka, fiquei na casa do camarada Kamal por cerca de 10 dias em janeiro/fevereiro de 2012. Durante esse período, tive a oportunidade de aprender mais sobre suas condições de vida e sua personalidade. Kamal tinha um caráter forte e um líder nato. Era fácil entender por que ele foi capaz de construir e liderar um sindicato que defendia os interesses dos trabalhadores e pequenos camponeses. Quando andávamos por sua aldeia, pude perceber que ele era uma figura amplamente respeitada.

Quando nos sentávamos juntos à noite com sua esposa Punniyaseela e sua filha Praaveena, ele me contava, entre outras coisas, sobre sua experiência nos anos difíceis da guerra civil. Entre 1983 e 2009, os Tigres Tâmeis – um movimento de libertação nacionalista pequeno-burguês – travaram uma revolta armada contra o governo chauvinista cingalês e exigiram um Estado independente (Tamil Eelam). Embora Kamal, sendo trotskista, se opusesse aos seus métodos, este foi um período desafiador para todos os revolucionários, dada a tremenda repressão das forças estatais. Basta dizer, neste ponto, que ele demonstrou tremenda coragem também naquele período.

Juntamente com o camarada Thanga, Kamal desempenhou um papel de liderança na construção da seção da RCIT, o Partido dos Trabalhadores do Lanka Unido. A organização era composta principalmente por trabalhadores tâmeis e estava sediada nos distritos de Nuwara Eliya e Ratnapura. Kamal e Thanga trabalharam arduamente para expandir a organização e conciliar o trabalho partidário com o trabalho sindical.

No entanto, com a grave doença do camarada Thanga, falecido em agosto de 2011, o trabalho da seção vacilou. A seção deixou de funcionar como uma organização eficaz. Mesmo assim, continuamos a manter relações fraternais com os camaradas.

O funeral de Kamal demonstrou o respeito generalizado que ele tinha como líder comunista e sindical. Seu caixão foi envolto em uma grande bandeira vermelha com a foice e o martelo, e dezenas de pessoas se reuniram para prestar suas últimas homenagens a um lutador incansável.

Enviamos nossas profundas condolências à sua família e companheiros. O corpo de Kamal faleceu, mas seu espírito revolucionário continua vivo entre todos nós que dedicamos nossas vidas à luta de libertação da classe trabalhadora.

Camarada Kumarasamy Kamalanathan – Presente!

 

1) Shrestha, S., Dhar, S. e Prabaharan, S. (2022). Relatório do Sul da Ásia: Situação dos Trabalhadores de Plantações de Chá e Pequenos Agricultores no Sul da Ásia. Aliança do Sul da Ásia para a Erradicação da Pobreza (SAAPE), Nepal

2) Em memória do camarada Maruthei Thangavel (1954-2021),https://www.thecommunists.net/rcit/comrade-maruthei-thangavel-1954-2021/

3) Para as origens e a história inicial da CCRI, veja nosso livro de Michael Pröbsting: Construindo o Partido Revolucionário na Teoria e na Prática. Olhando para o Passado e para o Futuro após 25 Anos de Luta Organizada pelo Bolchevismo, dezembro de 2014.https://www.thecommunists.net/theory/rcit-party-building/